terça-feira, 25 de novembro de 2008



Como Se Não Houvesse Amanhã

É frequente na literatura colocarmo-nos cenários como: “E se não houvesse amanhã?”. Geralmente as opções são por atitudes de uma certa euforia cataclismica Vamos aproveitar As Últimas Horas E Fazer Tudo O Que Nunca Fizemos. Claro que, como o mundo está prestes a acabar, já não dá tempo para fazer quase nada disso, e só nos restam os cheap thrills. Outra variante popular é a abordagem familiar, como se fosse o Natal, mas para nos levarem os presentes todos. Não é de todo mal pensado, se houver tempo para isso, e é uma alternativa claramente sensata.

Mais interessante que este cenário, no entanto, é o cenário “E se não houvesse ontem?” Não me refiro obviamente ao dia de ontem, mas ao Ontem de tudo-até-aqui. O mundo começava hoje, depois de um reset. Quem é que seríamos? As mesmas pessoas? Ou aproveitávamos [1] para limar arestas, recontar certas e determinadas estórias? Imaginem-se expressões do tipo: “Ele viveu como se não houvesse ontem”, referindo-se a alguém que tivesse recomeçado.

E se estivessemos Ausentes do Presente? Esta é a alternativa correspondente à moeda que cai de pé (devia haver regras para quando as moedas caem de pé). Esta é a alternativa mais simples. Se não estamos cá, não há muito que possamos fazer. A menos que saibamos o que se passa, e amanhã possamos voltar com esse conhecimento.

Estava a pensar sobre o que seria uma Inconvenience Store (nota: não estou a dizer que este seja um jogo de palavras especialmente inteligente, mas pensemos em conjunto). Se isto for binário, a maior parte das lojas são inconvenience stores. Bom, quero lá saber das lojas. Aquilo que me apetece dizer é o seguinte: vou passar ater uma parte de todas as postas intitulada O Páragrafo Sublinhado. No caso, é este. Não por ter especial importância, ou por ser uma tolice sublinhar texto em que não se pode clicar, mas só para te confundir. Este é também O Parágrafo que te Confunde. A maior parte dos visitantes de páginas na internet só vê uma página. Deparando-se com uma página como esta, com um grande sublinhado, é aí que se vão concentrar. O que significa que tudo o resto, que pode ser a mensagem importante, fica fora do radar. E mais, se eu fizer de propósito para escrever mais tolices que o costume na parte sublinhada, é um bom artifício para alienar visitantes.

Outra coisa que pode ser interessante é destacar partes do texto, usando a formatação para alterar o ênfase, de forma contrária à sua utilização normal. Se forem palavras com pouco conteúdo, isto resulta melhor ainda.

Tinha mais dois temas para abordar nesta crónica terçafeirista. O primeiro, é a palavra “fazil”. Esta palavra não existe. Sem querer estar a negar a existência de alguém que só descobri depois, mas que não tem qualquer relevância para esta posta (nem esta posta para ele) ((até porque não lha dou)), esta palavra “fazil” parece-me o nome de uma cor. Perto do lápis-lazúli, do anis e da Erva Doce. O problema é que quando pesquiso “Erva Doce” na Wikipedia, aparece-me “Funcho” (e quem não conhece o Funcho do Asterix?). Agora reparem no pormenor delicioso que nos dá essa enciclopédia galáctica:

Na Grécia Antiga era designado por μάραθον (marathon), estando na origem do nome Maratona (que afinal, em português seria Funchal), o local da mítica batalha de Maratona travada em 490 a.C. entre gregos e persas. A mitologia grega diz que Prometeu usou um talo de funcho para roubar fogo dos deuses. [2]

Repararam no Pormenor Delicioso que é o comentário sobre o Funchal? Às vezes parece que nos aparecem pérolas [1] de dentro de palavras que pensávamos que conhecíamos.

E já alguma vez te disse que adorei o livro do Steinbeck chamado “A Pérola”, que os meus pais costumavam ter em casa com a capa já semi-desfeita? Há pérolas que às vezes é preciso atirar de volta ao mar.

[1] Gosto de palavras exdrúxulas, ficas a saber.

[2] É a primeira vez que cito Grego Antigo numa posta.



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