domingo, 30 de novembro de 2008



Quando Voltar A Seattle, Compro Um Kilt

Está prometido. Não sei se um Original, se um Survival. Estou inclinado para o Survival. Usar um Kilt é quase como usar um Poncho, parece-me. Usar um Poncho e simultaneamente um Kilt, isso sim, seria arrojado, e duvido que seja capaz de me seguir por esse caminho de aventura boémia.

Este ano no FMM em Sines o baixista do Kimmo Pohjonen, um Sr. que devia embrulhar o baixo e atirá-lo ao mar como à pérola (mas por motivos diferentes) e dedicar-se à decoração de interiores, tinha um kilt vestido (ia dizer calçado, veja-se). Era preto. Pensei para comigo mesmo (penso até que cheguei a dizê-lo): “aposto que o man é de Seattle” [1]. E não é que é mesmo? Acho que ele tinha o modelo Tuxedo, e não lhe ficava bem, até porque tinha as pernas rapadas.

Isto tudo para dizer que não, não planeio rapar as pernas. Apesar dos coros públicos nesse sentido, os abaixo-assinados, das cartas registadas de presidentes e governos e primeiros-ministros de milhares de países, é um pedido a que não posso aceder. Rapar das pernas os pelos é impossível aos olhos da minha crença nas vacas sagradas do Nepal. [2]

Já que estamos a falar do Nepal, uma coisa que se come no Nepal é Nan. E ali no Everest Montanha na Avenida do Brasil, por exemplo, o Cheese Nan é muito bom. Acompanhado de uma chamuça, um prato *Everest ou *Korma p.ex., uma Cobra (tem de haver uma loira à mesa), e por vezes uma Bebinka multi-fatiada a fechar, é bem melhor que eu sei lá. Curioso também que o nome deste prato culinário típico do Nepal seja usado em algumas zonas do nosso país (Algarve?) com um significado totalmente diferente, em frases como: “hoje nan me apetece tomar pequeno almoço”, “Nan sei, nan sou de cá” ou “Nan, nan quero uma bolacha”.

Na próxima posta vou falar de Harodopios (lê-se com acentuação no primeiro ó). Hoje não posso porque não apenas O Vosso Cronista se aproxima do limite contratado de palavras, mas porque a noite passada dormiu pouco. Zzzzzzz. Fiquem bem e cómodamente quentes.

 

[1] Dizer “man”  [3] é fashion Outono-Inverno 2008.

[2] Eu estou de acordo com a opinião do Richard Dawkins de que uma religião merece tanto respeito como a crença em ovnis, motivo pelo qual não está acima de crítica, discussão, alegoria e galhofa generalizada.

[3] Não confundir “man” com “nan”. A primeira palavra diz-se “méne”, a segunda “nãn”.



terça-feira, 25 de novembro de 2008



Como Se Não Houvesse Amanhã

É frequente na literatura colocarmo-nos cenários como: “E se não houvesse amanhã?”. Geralmente as opções são por atitudes de uma certa euforia cataclismica Vamos aproveitar As Últimas Horas E Fazer Tudo O Que Nunca Fizemos. Claro que, como o mundo está prestes a acabar, já não dá tempo para fazer quase nada disso, e só nos restam os cheap thrills. Outra variante popular é a abordagem familiar, como se fosse o Natal, mas para nos levarem os presentes todos. Não é de todo mal pensado, se houver tempo para isso, e é uma alternativa claramente sensata.

Mais interessante que este cenário, no entanto, é o cenário “E se não houvesse ontem?” Não me refiro obviamente ao dia de ontem, mas ao Ontem de tudo-até-aqui. O mundo começava hoje, depois de um reset. Quem é que seríamos? As mesmas pessoas? Ou aproveitávamos [1] para limar arestas, recontar certas e determinadas estórias? Imaginem-se expressões do tipo: “Ele viveu como se não houvesse ontem”, referindo-se a alguém que tivesse recomeçado.

E se estivessemos Ausentes do Presente? Esta é a alternativa correspondente à moeda que cai de pé (devia haver regras para quando as moedas caem de pé). Esta é a alternativa mais simples. Se não estamos cá, não há muito que possamos fazer. A menos que saibamos o que se passa, e amanhã possamos voltar com esse conhecimento.

Estava a pensar sobre o que seria uma Inconvenience Store (nota: não estou a dizer que este seja um jogo de palavras especialmente inteligente, mas pensemos em conjunto). Se isto for binário, a maior parte das lojas são inconvenience stores. Bom, quero lá saber das lojas. Aquilo que me apetece dizer é o seguinte: vou passar ater uma parte de todas as postas intitulada O Páragrafo Sublinhado. No caso, é este. Não por ter especial importância, ou por ser uma tolice sublinhar texto em que não se pode clicar, mas só para te confundir. Este é também O Parágrafo que te Confunde. A maior parte dos visitantes de páginas na internet só vê uma página. Deparando-se com uma página como esta, com um grande sublinhado, é aí que se vão concentrar. O que significa que tudo o resto, que pode ser a mensagem importante, fica fora do radar. E mais, se eu fizer de propósito para escrever mais tolices que o costume na parte sublinhada, é um bom artifício para alienar visitantes.

Outra coisa que pode ser interessante é destacar partes do texto, usando a formatação para alterar o ênfase, de forma contrária à sua utilização normal. Se forem palavras com pouco conteúdo, isto resulta melhor ainda.

Tinha mais dois temas para abordar nesta crónica terçafeirista. O primeiro, é a palavra “fazil”. Esta palavra não existe. Sem querer estar a negar a existência de alguém que só descobri depois, mas que não tem qualquer relevância para esta posta (nem esta posta para ele) ((até porque não lha dou)), esta palavra “fazil” parece-me o nome de uma cor. Perto do lápis-lazúli, do anis e da Erva Doce. O problema é que quando pesquiso “Erva Doce” na Wikipedia, aparece-me “Funcho” (e quem não conhece o Funcho do Asterix?). Agora reparem no pormenor delicioso que nos dá essa enciclopédia galáctica:

Na Grécia Antiga era designado por μάραθον (marathon), estando na origem do nome Maratona (que afinal, em português seria Funchal), o local da mítica batalha de Maratona travada em 490 a.C. entre gregos e persas. A mitologia grega diz que Prometeu usou um talo de funcho para roubar fogo dos deuses. [2]

Repararam no Pormenor Delicioso que é o comentário sobre o Funchal? Às vezes parece que nos aparecem pérolas [1] de dentro de palavras que pensávamos que conhecíamos.

E já alguma vez te disse que adorei o livro do Steinbeck chamado “A Pérola”, que os meus pais costumavam ter em casa com a capa já semi-desfeita? Há pérolas que às vezes é preciso atirar de volta ao mar.

[1] Gosto de palavras exdrúxulas, ficas a saber.

[2] É a primeira vez que cito Grego Antigo numa posta.



segunda-feira, 24 de novembro de 2008



[a]casos

A wikipedia descreve Synchronicity da segunte forma:

Synchronicity is the experience of two or more events which are causally unrelated occurring together in a meaningful manner. In order to be synchronous, the events should be unlikely to occur together by random chance.

A frase a bold é a diferença entre isto e uma simples coincidência. Se calhar, uma "sincronicidade” não é precisamente uma coincidência simples, antes uma com significado. O que me baralha, mas resulta num jogo de palavras giro (60 numa escala de 1 a 100, votaria o público).

E o que é uma asincronicidade? será que os eventos são relacionados? que ocorrem separados? que não têm significado? ou que ocorrem juntos por algo que não o acaso?

Perguntas destas mantêm-me acordado de noite, a olhar para as estrelas fluorescentes no tecto (seria bem mais poético se fosse florescentes).

Depois, quando acordo, geralmente apetecem-me uvas.



sexta-feira, 21 de novembro de 2008



Nós somos os Introvertímidos.

Há dias escrevi alhures uma posta com um título como este. Era uma posta profissional, séria, comedida, com a minha persona pública, aquele que é o outro e aparece em palcos de auditórios e se desdobra em contactos e conhecimentos técnicos variados. [2]

Mas este aqui também sou eu. E lendo-me a mim próprio, desactualizado no tempo, apeteceu-me vir tirar o pó às palavras (como vos adoro…).

Precisava de um rastilho que me fizesse ir pelos ares (estás aí?) Ou então de férias. Estive fora 3 semanas em duas, e com trabalho intenso no intermezzo. Satisfeito mas cansado. Ou férias ou rastilho, malta. Como é? Preciso, também, do Fundo do Mar (vá, 20 ou 30 metros chegam).

Seja como for, agora que voltaram a abrir a internet às pessoas, «vou tentar vir mais aqui». Deve ser das frases que mais se dizem no Universo, juntamente com «Lets Just Be Friends». Claro que, tendo já decretado a universalidade para todo o sempeterno deste belogue (conforme nota 76/p45 acordo ortográfico 1867), não tenho propriamente de me preocupar com isso. Antigamente deixavam-se livros, que iam para a biblioteca nacional ou para a torre do tombo. Vendem-se milhares de milhões e trincabilhões de cópias, que ficam em casa de quem os compra até 90% dos filhos os reciclarem. O problema vai ser quando já não houver livros. O digital dura para sempre?

Oh, sim, quero mesmo ver daqui a 100 anos a conseguirmos ler discos de 2008. Se já disketes é uma sorte.

 

Por outras palavras: eu sei o que faço por aqui. Não sei o que tu fazes por aqui. Bom, até sei, na realidade. Fizeste uma pesquisa no gugle e vieste cá dar. O provável é que leias a página na vertical, “não, não é isto que procuro” e a seguir apertes o botão de back (não é tão fixe, dizer “apertar”? e dizer “fixe”, então?)

 

Agora que já estou sozinho outra vez, posso continuar aqui a apertar os meus botões [1] com calma, três ou quatro de cada vez, enquanto tenho o gozo e prazer de ver as letras tão bem desenhadas a aparecer no fundo branco.

 

Deixei passar o meu aniversário e não vim dizer-te Olá. Olá, por aqui? Tudo bem contigo? Temos de ir jantar um dia destes. Ok, manda-me um mail e marcamos. (só para me vingar, acabei de marcar um almoço com uma destas pessoas, já para amanhã)

 

Ando sem energia para fazer uma série de coisas que me dão (sempre deram) prazer. Leitura e Cinema são duas destas coisas, as mais Importantes. É precisa energia, parece-me. Também para escrever aqui. Sem ser banalidades (e neste momento não estou com muita sorte nesse aspecto, claramente). Li um livro num avião que me deu tanto gozo que me apeteceu muito, muito, voltar a mergulhar em páginas de outros universos (ainda por um Le Carré de Aeroporto…). E vir aqui espreitar-te faz parte disso.

 

Agora é de noite e apagaram-se as luzes. Ouvem-se passos ao longe mas não percebo bem de onde vêem.

 

 

[1] Notar o trocadilho entre “botões” e “teclas”, e a repetição da palavra “apertar”, o que torna esta frase imensamente engraçada.

[2] Nada disso. O título era parecido, mas depois mudei para este. E como posso ter mudado outra vez depois de escrever esta nota explicativa, não posso deixar de o salientar aqui: o título da posta pode ter sido N-mudado.



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