segunda-feira, 14 de setembro de 2009



Mulher Diagonal, A

Nunca tive tempo para nada. Não percebo, mas parece-me só acontecer comigo. Mas deixa que te explique. Chamo-me Dorit, e não sou um peixe azul de fraca memória. Sou uma mulher de carne e osso, não tenho cabelo azul nem escamas, e vivo a vida na diagonal.

Imagino que tenha começado no leito materno, mas a primeira vez que repararam foi na maternidade: encontravam-me sempre deitada na diagonal no berço. E se me endireitavam, meia hora depois lá estava na diagonal de novo. Também nunca fui de fazer grandes birras, não havia tempo para isso, tinha de ir brincar. Fazia tudo na diagonal. Um bocadinho de choro, só para dar um sabor, um bocadinho de comida, um bocadinho de brincadeira, primeiro com brinquedos depois com amigos, um bocadinho de estudos, um bocadinho de namoros, um bocadinho de casamentos, um bocadinho de empregos.

Tudo na diagonal, e sempre cada vez mais acentuada, a viver a vida mais resumida e cada vez mais e mais depressa, a deixar coisas a meio mal começadas, uma vida de primeiros parágrafos e resumos resumidos.

Nem sei porque estou a escrever isto. Se me pedissem para reler este texto, só leria “Mulher Nunca Texto”.



1 comentário:

  1. Não te priocupes a até a minha vida é na diagonal e bota diagonal nisso.

    beijinhos

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