quarta-feira, 23 de setembro de 2009



tudo começou quando

Foi num daqueles dias de Outono que amanhecem soalheiros, e à medida que as horas avançam se vão entristecendo e acizentando, e lembro-me como se fosse hoje. Presta atenção ao que te vou contar.

O sábado amanheceu com sol, e sem núvens no azul celeste. Parecia um Verão de São Martinho, sabes? A aquela altura do ano associam-se árvores a despir e pessoas a vestir, e não dias como aquele. Segui com o olhar um pássaro solitário que passou à minha frente, a voar sobre o rio, para a outra margem. Um voo alegre como aquele só podia ser de uma andorinha, pensei. Ou um pombo, e levar a minha mensagem secreta, a pequena nota que te escrevi. Eh. Não me ligues, estou a distrair-me. Deixa-me continuar.

O dia parecia não poder ser pior para o que queria fazer, lindo e brilhante. Atravessei a ponte a pé, o chão ainda molhado da chuva da véspera, o ar limpo e agradável de respirar, e fui para o café onde nos tínhamos combinado encontrar, para mais um café e pequeno-almoço a ler o jornal da manhã.

Nesse dia levava-te uma despedida como surpresa.

Estava cansado, estava triste com o fosso entre nós no teu olhar, desanimado com ter de escalar os muros do teu castelo, como se todos os dias tivesse de reconquistar o mesmo pequeno pedaço de terra, todos os dias o mesmo ritual e a mesma batalha.

Ia dizer-te adeus, sabes? a nota que escrevera tinha tudo o que te queria dizer, o que esperava conseguir dizer-te, o que esperava ter decorado palavra-por-palavra, e que tinha de sair de mim num só fôlego.

Porque nunca te disse? Não sei. Depois do que aconteceu, deixou tudo de fazer sentido.

Fui o primeiro a chegar, como era costume, e pedi o mesmo de sempre, enquanto olhava para as pessoas e esperava por ti e pelo teu olhar perdido ensonado dos sábados de manhã. Vi-te dobrar a esquina e vir em direcção a mim ao mesmo tempo que a música que começava a tocar na rádio me envolveu, e à medida que te aproximavas, como numa bolha de sabão, tudo lá fora deixou de importar. Vi o teu cabelo de quem acabara de se levantar, o teu andar decidido e preguiçoso, e o teu sorriso como nunca vi outro a nascer. Amachuquei a nota de papel que tinha no bolso, e sorri-te de volta.

Sim, claro que me lembro da música. Queres ouvir, imagino… Mas o importante é que há alturas, meu amor, em que é preciso arriscar. Por vezes o destino sorri.

Como fez connosco.

Outro desafio, o terceiro, da mesma amiga. As palavras que serviram de inspiração? Interessam mesmo? Lamechas? So what.



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