sexta-feira, 23 de outubro de 2009



Duas Bocas

Diz quem afirma em tempos tê-los conhecido, que já foram pessoas, bastante normais até. Com as suas vidas, estudos, amigos, trabalho, viagens. Dizem que têm pena de hoje os ver assim, e alguns até dizem ter saudades. Outros, talvez menos amigos que os anteriores, comentam ironicamente que pela boca morre o peixe, o que tem meia verdade, no caso em causa.

Quando se conheceram e morderam o anzol, foi um beijo instantâneo de cola, não puderam nem quiseram largar mais os lábios um do outro.

O homem que ensinou a humanidade a grokar dizia que quando beijava, se concentrava integralmente nesse beijo, esquecia tudo o que se passava lá fora, todas as distrações, ruídos, pensamentos, pessoas, o mundo era o beijo que estava a partilhar.

Os lábios, macios, encaixaram uns nos outros como peças de puzzle, as bocas, os dentes, as línguas, primeiro numa surpresa de descoberta, na urgência inquieta do desejo, no conforto suave de uma noite de conversa num bar com música, numa noite à frente da lareira.

Não era suposto acontecer, e nenhum dos dois o esperava. Conta quem viu que ficaram presos ao primeiro beijo, unidos pelos lábios, pelas bocas, que se comeram um ao outro, consumidos por uma paixão insensata e um prazer sem portas.

Conta quem os viu pela última vez, há uns meses, que os lábios continuavam colados, e que no que restava daquelas bocas se viam enormes sorrisos felizes.



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