terça-feira, 19 de janeiro de 2010



O miúdo e o Mar

“Samuel. Sou o Samuel.”

Foram as primeiras e únicas palavras que lhe ouvi toda a semana, ao leme do pequeno barco de pesca. Não parecia ter 14 anos sequer, um sorriso maroto nos lábios, e muito pouco português.

Tinha ido a Cabo Verde para conhecer o fundo do Mar, mergulhar em condições artesanais em águas maravilhosas e muito pouco exploradas. Ver tubarões. O nosso guia e e dono do barco, o Carlitos, era pescador com arpão sempre que não tinha clientes europeus, o que era aliás raro.

Enquanto mergulhava, o Samuel ficava à superfície a tomar conta do barco, com aquele ar simples e a pele negra brilhante ao Sol, o mar calmo e deserto a reflectir o céu.

 

Voltei lá um ano depois, e reencontrei o Carlitos, agora sozinho com o seu barco. Perguntei pelo Samuel. Disse-me que tinha ido trabalhar para a cidade. Que tinha mulher e dois filhos para sustentar. Que tinha deixado o Mar.

 

 

[2º exercício do curso de escrita de viagens; história quase verídica; hei-de postar aqui uma foto do “Samuel”]



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