quinta-feira, 7 de janeiro de 2010



Serenada à Chuva

O dia estava seco, o céu azul cheio de sol e sem uma nuvem sequer. Debaixo de nós os dois já tinham passado 400 quilómetros de terra vermelha, sem se ver vivalma. É aborrecido conduzir no deserto, a única companhia lá fora os lagartos à beira da estrada e os sinais a avisar para ter cuidado com os cangurus.

Era fácil conduzir no lado errado da estrada quando não se via ninguém, e a minha companheira pediu para experimentar. Parei, trocámos de lugar com o calor a voar do chão , e recomeçámos o caminho, ainda a 50 quilómetros do parque onde iríamos passar a noite.

Não andámos cem metros sequer – juro – até o céu se encher de nuvens cinzentas muito escuro, e gotas grossas esconderem a estrada à nossa frente.

Acabámos por parar, debaixo da chuva torrencial, sem conseguir ver nada, a olhar lá para fora calmamente e sem palavras.

Só a mim, pensei a sorrir: vir apanhar isto no coração do deserto vermelho. É outra história para contar.

[1º exercício do curso de escrita de viagens; história verídica]



8 comentários:

  1. Mudam-se as condições, mudam-se os resultados, diz um físico ou um matemático.
    As novas "tendências" esotéricas dizem que tudo está previsto. Talvez o objectivo fosse fazer-vos parar para não conseguirem ver nada "para fora".
    Ou então foi simples acaso, factor que agora ninguém acredita existir e que dá toda o encanto a este tipo de momentos.

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  2. Muito sinceramente, nunca me passou pela cabeça que pudesse ser outra coisa que não o acaso. :-)

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  3. Laplace acreditava fortemente no determinismo, o que é expressado na seguinte citação da introdução do Essai:"Nós podemos tomar o estado presente do universo como o efeito do seu passado e a causa do seu futuro. Um intelecto que, em dado momento, conhecesse todas as forças que dirigem a natureza e todas as posições de todos os itens dos quais a natureza é composta, se este intelecto também fosse vasto o suficiente para analisar essas informações, compreenderia numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os do menor átomo; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente perante seus olhos"

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  4. Essa citação é de 1800. Depois disso veio a mecânica quântica, o gato de schrodinger e o princípio da incerteza de heisenberg, a teoria do caos, a termodinâmica, a entropia.

    A wikipedia tem tudo:

    http://en.wikipedia.org/wiki/Laplace%27s_demon#Arguments_against_Laplace.27s_demon

    «In a quantum mechanical world, Laplace's demon becomes a clear impossibility. Chance is an essential part of the world's unfolding, and the Heisenberg Uncertainty Principle forbids exact measurements of positions and velocities simultaneously. But even within a hypothetical classical universe, there are reasons to doubt that Laplace's Demon is a meaningful concept.»

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  5. Este cepticismo todo foi escrito pela mesma pessoa que escreveu a última frase do "Sempre soube quando ia morrer"?
    Afinal há coisas pré-definidas ou estamos completamente sujeitos ao tal Acaso que referes?

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  6. Olá anónimo ou anónima,

    quando escrevo um texto, sou eu que faço as regras. é o meu mundo, sou o deus dele. por isso vale o que lá quiser colocar.

    acredito em acasos e em coincidências. acredito que se tiver macacos suficientes a escrever à máquina, um deles vai acabar por produzir um soneto de amor do Camões.

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