sexta-feira, 26 de setembro de 2003



Não tenho televisao desde que tive possibilidade de optar.

Torna-se um pouco frustrante, por vezes, perceber que há referências culturais que deixo de partilhar com os meus pares. É verdade que a maioria dessas referências são a publicidade e anúncios :-), geralmente divertidos, que se lembram de comentar comigo antes de deixarem frases a meio "Ah, é verdade, tu nao tens televisão" (que já ouvi dezenas de vezes, bem contadas). Outras vezes sao referências a imagens de catástrofes ou acidentes ou documentários sobre situações chocantes que ocorrem em alguma parte do mundo.
Não é o suficiente para me fazer mudar de ideias.

Quando alguém fica a saber este facto, e depois da Fase da Surpresa, inicia-se a Fase da Persuasão. Os argumentos para isto tomam em 95% dos casos a forma de insistentes "Mas e os filmes? E as séries?! E as notícias?!", e são ineficazes.

A terceira fase é a realmente curiosa. É a Fase da Confissão. Muitas estas conversas, que decorrem mesmo na sequência que descrevi acima, terminam com confissões sofridas de "Pois, eu tb nem vejo muita televisão, para falar verdade mal a ligo. Uns filmes de vez em quando, as notícias...", e mesmo que eu pergunte "mas não há vezes em que te sentas a frente da TV a passar canais?", as respostas são assertivamente negativas.

Lembro-me de há uns anos atrás ter tido aulas com pessoas da Sic, sobre Audiovisual, e de nos terem demonstrado - num calendário, tipo Plano de Guerra - a estratégia deste canal para superar a RTP. O acompanhamento permanente das audiencias, as guerras do futebol, as telenovelas da Globo, os programas em portugues, o posicionamento para a mulher dona de casa a quem o marido a noite cede o comando da tv (e aqui estava a citar). A RTP nunca teve hipóteses.

Numa dessas aulas que terminava, um responsável da área do marketing saiu a dizer - do seu próprio canal: "Bolas, eu não vejo aquilo..."

Enfim... cenas!



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