sábado, 31 de janeiro de 2009



Era uma vez um rapaz…

lutou o mais que pôde contra crescer. um pouco de adolescência, rebeldia, ser do contra, refilar e protestar contra o mundo. com energia, mas também de forma imatura, nas relações, no trabalho, na vida.

hoje isso acabou. acabaram as tais viagens de comboio em 3 troços pela noite de madrugada com névoa e as escadinhas, terminaram os passeios pelos campos ou pela terra aos teus ombros ou de mão dada contigo, as buchas com queijo, as conversas na tasca, as voltas na tua bicicleta enorme…

… acabou-se a juventude. parece que agora, com 36 anos, tem mesmo de se tornar adulto.

 

adeus, avô. não te vou esquecer, nunca.



segunda-feira, 19 de janeiro de 2009



Thin Blue Line

Vou escrever em forma de tangente.

escrever em tangente, no entanto, implica a colaboração activa dO Leitor. O Leitor certamente estará informado de que, em matemática, a palavra tangente tem dois significados distintos mas epistemologicamente relacionados: um em geometria, cuja tangente é a reta que em pequenas distâncias funde-se com a circunferência, e o outro em trigonometria é um plano (de inclinação) que tange a superficie de uma esfera.

sendo aqui que a curiosa palavra tange deve ser ententida não pelo seu significado musical (tocar um instrumento), mas seu outro significado, não musical mas muito mais wikiano.

tendo isto como premissa, vou ter de pedir ao leitor para imaginar uma folha repleta de círculos, de variadíssimos diâmetros e cores, desordenadamente colocados na página. para cada um deles, e escolhendo um ponto coloquialmente ao calhas, trace uma recta tangente, por forma a que todas as tangentes se cruzem num e num único ponto de fuga.

pois esse ponto é precisamente a mensagem que quero deixar aqui, sobre estar apaixonado. e os pequenos pedaços de texto que vou deixar a seguir, e que ainda não sei quais são porque não saíram de mim, são todos eles sobre esse ponto. as ligações, no entanto, são tangenciais. e podem nem existir. aí entra a imaginação rica dO Leitor, e o labirinto do borges [1].

a primeira história é sobre as palavras “pedaços de texto”, que usei no parágrafo anterior. algo que detesto em teatro são aqueles momentos auto-masturbatórios [3], sobre o quão fantástico é fazer teatro, representar, o palco da vida, yada yada yada. suspeito até que possa já ter escrito sobre isto no passado. ora para ser muito frango [2], penso o mesmo sobre a escrita. falar de palavras e sobre escrever, glorificando-as, é o mesmo tipo de coisa.

a segunda história é sobre um pato (ou pata), que eu ou a minha irmã tivemos quando éramos gaiatos, na Terra dos Meus Avós. [4] lembro-me de ter sido comprado numa feira em santiais e de andar pelo quintal e pela rua sempre atrás de nós, do tamanho de um palmo, pai ou pais adoptados. como se podia prever, e como estas coisas não têm nunca final feliz, acabou no prato, o pato.

a terceira história é pornográfica, e como tal não a posso contar. chocaria as sensibilidades dOs Leitores atentos e pouco permissivos com a moralebonscostumes. ainda por cima, apetece-me chocolate, por isso não vou mesmo entrar por aí. tem a ver com mamilos como azeitonas de elvas em pornonovelas a preto e branco dos anos setenta.

a quarta história aconteceu quando terminei o curso, e fui com outros colegas a uma reunião sobre a perspectiva de continuar para mestrado, penso que em 1995. o curso tinha muitos alunos à partida, mais de 200, e com tanta gente é impossível conhecer todos. ainda hoje me surpreendo por saber que s ou l ou q foram meus colegas sem deles me lembrar de forma alguma. mas voltando ao passado. estávamos uns quantos à porta antes de entrar para a tal reunião, e encetou-se uma conversa sobre espírito de curso, sobre a pouca gente que aderiu à viagem de final de curso. dei a minha opinião (que seria a de esperar de um introvertímido), e uma miúda algarvia com quem terei trocado 2 ou 3 frases talvez no curso todo respondeu, perspicazmente: “isso és tu, que és um bicho do mato”. acho que nunca mais a voltei a ver, e não fez o mestrado, mas aquele momento foi uma lâmpada.

a quinta e última história, porque na minha folha de papel cavalinho só desenhei 5 bolas, é sobre uma ocasião em que ia na rua com um colegamigo, a caminho do almoço. poucos metros à nossa frente, uma velhotinha caiu, partiram-se-lhe os óculos e cortou-se, havia sangue. o meu colegamigo acorreu a ajudar, não fora nada de grave. eu fiquei gelado, sem me conseguir mexer. só imaginava vidros nos olhos, e a pela espinha subiam e desciam arrepios frios. e não, não me orgulho da reacção. a história é essa, no entanto, e aposto que tens uma dessas para contar, que te revolveu por dentro no mau sentido (como uma chave esquecida num bolso de calças numa máquina de lavar [5]).

 

agora que já aí tens as cinco histórias, podes olhar para ponto de convergência. nesse ponto tens o que é estar apaixonado, em forma de tangente muito tangente. perder o sono e ficar magoado, querer sem ter (sem querer?), dar e doer, essas coisas todas que me fariam detestar-me se as fosse desenhar aqui a lápis. têm tudo a ver contigo, tu a quem não digo o nome, e por quem estou apaixonado.

não me peças para explicar, quem tem a respostas era o borges e esse já não está cá para falar.

 

[1] se nunca te disse que o borges é, para mim, um dos maiores escritores que já passou pela humanidade, fica aqui dito para a posterioridade. [2]

[2] depois de inúmeros episódios de correcções pelo Vasto Público a frases intencionais, achei por bem passar a assinalar as utilizações porventura passíveis de causar desorientação aO Leitor.

[3] note-se a figura d’estilo pleonasmática [2], destinada a reforçar o significado.

[4] vai sempre ser A Terra Dos Meus Avós, mesmo quando.

[5] sempre quis usar esta imagem num post. depois de anos e anos, finalmente consegui.



sexta-feira, 9 de janeiro de 2009



Agora Que Te Conheço…

… tudo mudou. nada podia ficar na mesma, nunca nada fica na mesma. o observador altera o objecto observado, pelo simples facto de estar de olhos abertos, ali estacado, de olhos fixos em ti e a procurar os teus. quando respondem, num rodar de cabeça em que todo o fundo está desfocado, parece que o brilho te entra por dentro e o corpo sofre um choque bzzzzt eléctrico…

… o que mudou, perguntas? mudou tanta coisa, com cada pequeno curva da tua maneira de ser, cada vez que te toco ou te beijo, cada vez que sinto a (cliché alert!) curva do teu pescoço, as tuas maneiras, o teu cabelo comprido, até a tua ocasional brusquidão…

… mudou tudo. se antes me sentia atraído, apaixonado, agora sei que o que sinto vai muito além disso, sei que quero que nos partilhemos, nos consumamos um no outro.

quem não quer paixão e uma ‘jola? paixão é ””sofrimento””, em tempos postei aqui a definição para efeitos ilustrativos. é ir na rua e tropeçar perturbado num smiley errado de um sms, é não ganhar o sono, e querer fazer tudo com a outra pobre alma, que nem sabe bem o peso das 16 toneladas que lhe caíram em cima.

não estou nos meus dias mais inspirados. estou só a tentar fazer autosentido. vou tentar redimir-me postando algo de tradicionalmente interessante, como c@nta a laurie anderson. deixai-me pensar.

 

 

calma. eu vou lá.

 

 

só mais um minuto.

 

 

estou com blogger’s block. não tarda faço uma piada fácil sobre o quotidiano, provavelmente envolvendo políticos.

 

 

não. nem isso.

 

 

 

(mas eles mereciam)

 

 

vou ter de citar a minha irmã. no sms mais brilhante que escreveu desde que nasceu, disse-me há uns anos: “A mãe é mais dramas. Chama-a de dramática e culpa-a de seres sub-urbano depressivo.” O que eu ri ao ler isto empalideceria os Monty Python e mesmo Archie Bunker.

 

 

E mesmo apesar deste momento musicalmente cómico, ambos sabemos. Que agora que te conheço, tudo mudou. mudou tudo, amor.



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