três e meia da manhã
Há acontecimentos da nossa vida que nos definem, e que marcam tudo aquilo que virá a seguir. Tive um desses acontecimentos na minha vida, passam hoje 40 anos exactos dessa noite.
Estava acordado no escuro do quarto. Ao meu lado na cama dormia a mulher com quem casei por amor, por amizade, por empatia e companheirismo, pelo humor. Respirava baixinho, virada para o outro lado da cama. Eu não conseguia dormir. Algum tempo atrás envolvera-me com outra mulher, e o espaço que isso ocupava tinha crescido em mim aos poucos.
Por favor não me julgues, não é o teu papel, nem tens legitimidade para isso. Se queres ler, lê. Se não queres, estás no teu direito.
Não sabia o que fazer. De um lado a culpa, a mentira, o que sentia ser amor. Do outro a alegria, a paixão, a inteligência. A aventura e o proibido. Desenhei um mapa das opções, tabelei prós e contras, simulei em sonhos acordados o ficar e o partir, para ver se me ajudava. Falei com os amigos mais próximos, ouvi - ou não - o que tinham a dizer. Nunca seria uma opção deles.
Levantei-me em silêncio, fui sentar-me na sala. O despertador no quarto marcava 3 e meia, e lá fora estava uma noite agradável de Verão, os candeeiros a pontilhar a rua de amarelo.
A culpa era toda minha. Somos responsáveis pelos nossos actos, não é o que se diz sempre? Cá se fazem cá se pagam, e outros ditados assim. Eu sei. Meti-me no buraco, agora tinha de sair dele, eu sozinho.
Incapaz de decidir, incapaz de tomar uma decisão quer racional quer emocional, atirei uma moeda ao ar, na escuridão quase completa da sala. Olhei para a face que saiu, depois para a rua escura lá fora, e pensei "Está feito".
Passam hoje 40 anos exactos dessa noite. E a decisão que tomei, foi a decisão errada.
Inspirado vagamente no que me recordo do Intimacy, do Hanif Kureishi, e na música Witches, dos Cowboy Junkies.
mas normalmente não segues o q sai na moeda... :)
ResponderEliminar*Eu* não. :) Mas o texto não diz o que saiu. E não estava a falar de mim.
ResponderEliminarseja como for... muito bom... o texto, porque o facto é que a decisão é sempre a errada.
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