Riscos azuis
Primeiro escrevi uns rabiscos, rápidos e direitos, a testar a ponta macia. Em perfeitas condições, o tom de azul perfeitamente adequado às intenções. Mãos tratadas de mulher, pele suave, unhas pintadas. Em casa, escrevi sem cessar. Parei para o jantar, e voltei ao papel, furiosamente por vezes, muito devagar outras. O que tinha de sair saiu, em horas dedicadas, milhares de palavras, folha de papel atrás de folha de papel, frente e verso. A noite batia as 4 horas quando depois de uma passagem lenta, o papel ficou molhado numa pequena forma circular, a tinta azul misturou-se nela como fumo de incenso no ar, e deixou de sair, deixou de agarrar o papel.
Deitou-me fora, atirou-me para o cesto do lixo quase com raiva, ainda a meio a tinta no tubo. Já o livro que escrevi, esse teria algum sucesso, um romance triste em tons de azul, para mulheres sozinhas com os seus gatos.
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