domingo, 21 de dezembro de 2008



Nunca Vou Dizer O Teu Nome.

… sei que hoje estás aqui e que amanhã podes não estar. Que podes zarpar no esfregar de um olho, acenando um adeus até à próxima, a bordo do Holandês Voador, em direcção a outros mares e outros navios a afundar…

… e por isso mesmo, nunca vou dizer o teu nome. Não lhes vou dizer o teu nome. Evitá-lo como se fosse um vírus, um ebola mortal que arranca corações para os despedaçar nos mil pedaços de um cristal estilhaçado no chão.

… mas o teu nome faz-me bem. Faz-me sonhar, pensar em tonterias insensataz, paro maravilhado a ver-te no teu sorriso juvenil, traquinas, os lábios perfeitos, os olhos escuros e cheios de vidas…

… e por isso, por te querer para mim, nunca lhes vou dizer o teu nome. Dar-lhes o teu nome era dar-lhes parte de ti, não o quero fazer, não o posso fazer, preciso de todos os pedacinhos de ti. Nem que seja para os deixar embarcar…

… e porque o teu nome vai ser, sempre, meu. Quer tu queiras, quer não.





In The Morning.

De manhã acordo estremunhado, os lençóis quentes e macios, ao meu lado uma outra respiração suave acompanha o meu regresso à consciência. Levanto-me em silêncio, como um fantasma, e saio para o dia.

Fora do quarto está sol, toda a casa brilha e reluz com a força do nosso astro favorito, quase me cega numa cegueira branca. Curioso pensar no facto de a única divisão realmente escura, muito escura, ser o quarto de dormir. É o nosso casulo, a nossa gruta de vampiros, o refúgio onde até da luz nos escondemos na nossa vulnerabilidade. É também onde abraçamos a escuridão, apesar dos terrores que o negro da noite nos causa desde o Início dos Tempos. E onde nos entregamos, com paixão, à vergonha tímida do amor. Já viste bem, tantas coisas escondidas entre quatro paredes e um estore para baixo?

Seja como for, aqui fora está sol e estou sozinho, tu ficaste lá atrás ainda perdida em sonos e sonhos, os teus cabelos loiros sobre a almofada, deitada de lado a respirar de mansinho, mas já roubaste o espaço e calor que lá deixei.

Não sou uma pessoa matinal, mas o sol das manhãs é quase imbatível no prazer que me dá senti-lo, deixo de fazer sentido. Hoje, dia em que acordei estremunhado e deixei os lençóis quentes e macios no quarto, onde que ficou um corpo quente que adoro, vim escrever para a beira do mar, e o sol brilha tanto, que deixei de conseguir ver as tecl



sexta-feira, 12 de dezembro de 2008



Harodopios (lê-se com acento no primeiro ó) [1]

Tinha toda uma posta pensada em torno do conceito de Harodopios (lê-se com acento no primeiro ó) ((e escreve-se sempre dizendo isto mesmo)). Ia escrever sobre as voltas que dão pelos ares, sobre os fantásticos tons de azul do seu pêlo quando cruzam o céu velozes, sobre os seus lábios grisalhos e como beijam com paixão, sobre a sua alegria jovial.

Mas mais uma vez, mudei de ideias. Decidi fazer uma posta sobre frases de músicas de que me recordo. Não vou dizer de onde vêem ou quem as canta, nada. Ficam só as pa-la-vri-nhas [2]. Mas o que conta (canta?) a história  não são estas palavras, são as dos títulos.

Ou não seriam as noites dos amantes, que o mundo sempre acolherá, com luar e músicas de amor. Auto-contidos e soldados nos lábios. [3]

Quero desfazer o sentido. Geralmente já faço pouco dele, mas hoje quero fazer menos ainda.

Tive amigos em casa durante a semana que passou, e invadindo-me lavaram as plantas com Vinagre. Sorte a minha que não se lembraram do tinto. A continuar assim, ainda se lavam as paredes com azeite (ou o óleo das anchovas em lata), para ser mais saudável e resistir à Humanidade (verde é sempre melhor que cor-de-rosa, já dizia Manuel Germano, grande crítico do Género Humano [4]).

Gosto de palavras como gosto de histórias. Já devo ter escrito sobre isto algures no passado. Acho perplexante como lemos livros ou vamos ao cinema para que nos con-tem his-tó-ri-as. Em adulto, saliento duas. A primeira são as histórias do CD da Laurie Anderson, “The Ugly One With The Jewels”. Ouvi-o tantas vezes (ainda hoje pontapeio a parede por ter perdido o concerto dela em Lisboa em 94 ou 95) que as sei de cor, e comprei o “Stories From the Nerve Bible” de que foram retiradas. É como ser levado para outro universo pela voz dela, mas sem ser cliché como esta frase que ainda estou a acabar de escrever. (acabei). A segunda são as histórias de um podcast que descobri há alguns meses, chamado The Moth (“Live storytelling performances”). Gostava de saber contá-las assim, com clareza, emoção e paixão (mas as palavras atrapalham-se-me). Acabei por encomendar a caixa com 10 CDs, há dias.

I love stories. Tell me stories, entrance me, and you have my heart.

Mais nada.

[1] Só digo isto para relembrar que o acordo ortográfico me roubou (a mim pessoalmente, e a mais mortos que vivos) o acento que cabia justamente a esta palavra das mais lindas do português por descobrir.

[2] Repito: pa-la-vri-nhas.

[3] E vão duas para o mundo, cada uma seguindo o seu caminho.

[4] Ups. Referência literária secreta e subtil, em que poucos reparariam não fosse este rodapágina.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2008



Só Liguei Para Dizer Que…

Bazei. Vim-me embora. Trouxe os livros, os CD’s, as receitas mágicas de toucinho do céu, as mochilas e 300 t-shirts de metade do planeta, as canecas, os ténis, um casaco e um pão lêvedo. O resto fica, não gosto de viajar pesado.

Estou neste momento numa pequena ilha do oceano pacífico. E note-se que não estou a falar do programa de rádio. É uma pequena ilha, aproximadamente redonda em forma de ovo estrelado, onde não se filma nenhuma série de pessoas supostamente perdidas que faz tanto sentido quanto o Twin Peaks ou a Realidade, mas onde as omeletes são divinais.

Aqui há internet (suspension of desbelief ON), mas só há novidades de fora 3x por semana, pouca gente, dois imensos (imensos!) céu e mar azuis, calma, pássaros, relva verde debaixo dos pés. E árvores. É.

Decidi deixar o fato e a gravata e os sapatos à porta da ilha. Incomodavam-me. Afinal, sempre foram anos e anos e anos com eles. Cerca de 170, o que faz com que (fazendo as contas) actualmente tenha cerca de 36 anos de idade.

Entre os livros que trouxe, tenho um com o título mais pateta que já vi. Tão pateta, que gostava de ter sido eu a inventá-lo. Chama-se “Como o soldado conserta o gramofone”, e tem na capa um rapaz com ar patusco a tocar uma concertina, na praia e vestido de fato preto, com dois cães a passar a correr atrás. O livro existe mesmo. Note-se que não o estou a recomendar. Ainda não o li. Só estou a referir que a capa é soberba de non-sense e que, em consequência, me fez sentir pouco menos que um amador dessa arte.

Ontem saí de casa e percorri os poucos metros que me separam do mar. Estava molhado, o que me surpreendeu, por isso levei areia e uma toalha. Não gostei que olhasses para mim jocosamente, rindo-te da cor da minha toalha. É minha, e gosto dela. Acho que combina bem com a minha personalidade. Chupo-a quando preciso de nutrientes, especialmente aos cantos . [1] Tu não podes dizer ou fazer o mesmo. :p

 

[1] Pontos a quem reconhecer a referência ao Livro Mais Hilariante da História da Humanidade (LM3AGÁS).



terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Hoje… Não.

Pensei em escrever sobre coisas interessantes e fantásticas. Sobre Harodopios. Sobre o sol no rio. Sobre o brilho de um sorriso nos olhos. Sobre o mar. sobre a terra descalça com pés nus. Sobre o céu (azulinho). Sobre as núvens em forma de sonho. Sobre a mão numa fonte fresca da montanha. Sobre uma mão com areia dentro. Sobre uma maça brilhante que ofusca. Sobre um gomo de tangerina (que bela palavra, tan-ge-ri-na). Sobre o vento. Sobre relâmpagos de noite e frio húmido até aos ossos com trovões nos ouvidos (saídos do fundo bem fundo do planeta).  Sobre alegria e sobre o orvalho numa manhã. Sobre neblina e orelhas com frio, vermelhas. Sobre um espirro (ou dois) ((‘tchu)) (não me digam que um espirro não é bonito).

Sobre uma azeitoninha nos lábios.

 

Mas… hoje não vou escrever sobre nada disso.



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