domingo, 27 de março de 2016



Uma Posta Que Não É Ficção

Esta posta não é ficção. Há muito tempo que não escrevo aqui texto que não seja ficção. Mas desta vez é assim mesmo. Vou escrever uma posta no mais correcto português de que sou capaz (pré-acordo, claro), e com tanta seriedade que jamais os cantos dos lábios se desviarão da mais euclideana horizontal.

 

Ah, a questão do português posso aldrabar um bocadinho, tábem? é que ao mesmo tempo tamém mapetece escrever com marcas dóralidade, como me disse aquela professora do secundário. Mas ignora. E pensa assim: sempre quencontrares algo que te pareça um erro, repensa-te e considera: provavelmente foi intencional. É mesmo assim.

 

Um Piano na Praia com uma menina em cimaOra estava eu a caminho ou já em casa dos meus pais, para o tradicional mas não católico almoço de páscoa, quando li umas coisas nuns blogs que me passaram pelo telemóvel a caminho do cérebro. Uma destas coisas que li, na musa dominical, foi este texto caqui está. Não é nada de especial, um daqueles apelos à simplicidade pre-electrónica, ou à capacidade de conseguir (“conseguição” é palavra?) deixar algum espaço das nossas vidas fora da tecnologia. Mas a verdade verdadinha é que gostei da sugestão feita: a partir de uma determinada hora da noite, desligar todos os ecrãs. Seja de telemóvel, portátil ou televisão. Porque isso vai levar à felicidade interna (que é muito parecido com felicidade eterna, o que ia escrever, mas muito menos religioso e logo mais interessante), e dar mais tempo para um ror de outras coisas libertadores que em muito contribuirão para o bem estar matinal e nocturno.

Ora quem me conhece sabe que sinto a tentação de – estando a começar este parágrafo também com a denominativa palavra “Ora” - fazer por repetir a proeza com todos os outros daquilo que aqui vier a escrever. Mas dizia eu: quem me conhece sabe que sinto a tentação automaticamediata de ser céptico e dizer um “ya ya” dismissivo (quero lá saber que não exista), fica-te lá com a tua felicidade enquanto eu me vou aqui continuar a ler postas de lifehacking e felicidade interna no resto dos blogs. Mas alto e páróbaile, que mapece mesmo experimentar. A autora decidiu desligar ecrãs às 2300, mas esses horários matinais não são para mim. Vou fazê-lo isso sim, mas à meia nôte. Que tal? E aguarda aí que vou colocar uma alarmística na despertadoriana do telemóvel, um pouco como um kill switch na realidade: ora (lá está) atoca e adesligate. E porque o fiz? o que me persuadiu a experimentar foi este esnipet do text:

Rather than laying awake, though, likely thinking about work the next day, I chose to pick up a book. And then another, and then another. During the month of January, I read more than the previous six months combined. In fact, I could now read for an hour and still be asleep earlier than my normal time. And the best part? I didn’t feel like I had wasted any time by doing work and watching filler TV in the background.

Ora disto eu gostei (lá está, e vão 3).

 

Ora tenho mais coisas para d’zer. Depois de ler este texto passei para outro, e o que li a seguir também me transmitiu energias (pela simples recepção de fotões na minha retina, não estou a falar de disparates sobrenaturais calma lá): foi estaqui, e independentementementemente de achar que o autor está a levar alonge ademais a ideia de associar a ansiedade ao Delayed Return Environment (versus Immediate Return Environment):

Most of the choices you make today will not benefit you immediately. If you do a good job at work today, you’ll get a paycheck in a few weeks. If you save money now, you’ll have enough for retirement later. Many aspects of modern society are designed to delay rewards until some point in the future.

Mulholland-Our-Inner-VoicesOra eu podia lá está cepticamente dizer que estamos numa sociedade de consumo imediato, mas vamos por um momento suspender o tal cepticismo e seguir onde o contaautor nos leva. E onde nos leva? (agora fiquei aqui meio despalavrado na forma de continuar a frase). Leva-nos a um par de caminhos, mas o 2º foi o que me brilhou nos olhos: Shift Your Worry, from the long-term problem to a daily routine that will solve that problem. E melhor ainda, mais abaixo dá alguns exemplos pessoais, tendo eu sido inapelavelmente atraído por dois deles:

    • Writing. When I publish an article, the quality of my life is noticeably higher. Additionally, I know that if I write consistently, then my business will grow, I will publish books, and I will make enough money to sustain my life. By focusing my attention on writing each day, I increase my well-being (immediate return) while also working toward earning future income (delayed return).
    • Reading. Last year, I posted my public reading list and began reading 20 pages per day. Now, I get a sense of accomplishment whenever I do my daily reading (immediate return) and the practice helps me develop into an interesting person (delayed return).

Ora cástá. Era aqui que queria chegar. Dá-me buéeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeda gozo estar aqui contigo (eu tenho sempre só um leitor, e já desisti de quaisquer pretenções ao nobel de lit’ratura quando tinha 3 anos didade). Isto cogajo escreve é atotalmente verdade. Não faço dinheiro com palavrinhas, por isso essa parte não saplica, mas dá-me gozo estas duas coisas, são os bare essentials de mim [1]. In-descritível. Empatizei de instantimediato com a frase da qualidade de vida augmentada.

Ora mas não te vás embora ainda já tão cedo, cainda tenho mais uma cenita para referir nesta posta que tencionava introspectiva sobre uma cena gira que encontrei, mas que se está a tornar num exercício masturbatório que lembra o adolescente “Eu cá sou bom” dos Xutos.

 

 

Mmmmm.

Na realidade, fui reler a terceira cenita que queria referir-te, e na realidade não gosto muito da coisa, e o que antes vi como sendo curioso agora já não me parece sê-lo tanto assim na realidade. Talvez o cepticismo a que aludi nos dois casos anteriores me tenha invadido o cérebro como o mosquito da zika, mas olha prontos é assim mesmo e asssim sendo acho que já disse tudo o que tinha a escrever e fico-me por aqui.

Mas não temas, não temas, leitor singular. Porque se depender de mim, voltarei para te zikrinar o juízo. E com um sorriso horizontal nos beiços :-) .

 

 

[1] “Os bare essentials de mim” dava um bom nome de filme ou livro, numa outra qualquer realidade.



terça-feira, 22 de março de 2016



Dramatis personæ, diálogo

- Romeu
- Olá, Julieta
- Preciso de falar contigo
- Então?
- Reparaste que deixei de te responder às cartas?…
- Sim, claro. Porquê?
- Porque nos estávamos a aproximar, e tu não podes, e eu achei que era a opção mais sensata. E agora que nos vemos, é justo dizer-to.
(pausa)
- Fizeste bem. Obrigado. Já tinha suspeitado disso.
- Sim? Então?…
- Estavas a começar a fazer-me pensar. E não sou pessoa para tomar decisões sensatas, ainda bem que tu o és. (pausa) Despedimo-nos agora?
- Suponho que sim… mas…
- Então adeus, Julieta
(pausa)
- Adeus, Romeu

(e quando o pano cai, na sombra do invisível, colaram os lábios)



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