quarta-feira, 8 de dezembro de 2010



Maldito Orgulho

Acordou devagar como sempre, entorpecido de uma noite longa, com a sensação de que alguma coisa estava errado. Já se estava a levantar quando se lembrou de que ela já não estava na sua vida.

Romperam violentamente na noite anterior, rasgaram tudo o que os tinha juntado, sem olhar para trás ou tentar perceber porquê, não houve sanidade nem violência, mas uma calma fria e cortante e incompreensível e distante, como se nem fossem eles que estivessem ali, como se não quisessem ou pudessem dar-se ao luxo de admitir que se calhar até gostavam um do outro e que as coisas podiam até resultar, porque isso era fraqueza.

Romperam violentamente, e sabia que não se iam voltar a ver. Podiam pensar um no outro, podiam querer voltar a estar juntos, de certeza que se iam perguntar o que raios lhes tinha acontecido, mas não iam mexer-se para inverter fosse o que fosse, e as linhas iam divergir inevitavelmente. Ambos conheciam as regras do jogo, jogavam-no há demasiado tempo, e sabiam dos flancos que só se expõem uma, no máximo duas vezes na vida. Não o iam fazer outra vez.

Mas quando se joga à defesa não se marca, e o maldito orgulho não os deixou sair de onde estavam, cada um por si, a retomar a sua vida normal. 85% mais pobres, que estupidez tão trágica.

Não foi capaz de sair da cama, nesse dia.



(ps: não foi orgulho. foi não quererem a mesma coisa. mas ele escreveu isto antes de tudo acontecer)



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