Eu faço os dias
Já não tenho paciência para os aturar. Tanto de dia, como de noite, 90% dos meus clientes são homens. Estou FAR-TI-NHA.
Partilho um táxi com a Gisela, da Guarda. O patrão acha que ter mulheres ao volante é bom para o negócio. Eu faço os dias, ela as noites. No bar, é ao contrário. Ela faz os dias, eu as noites. Os homens de Fernão Ferro sempre preferiram as roliças na passerelle, e babam-se quando me vêm tirar peça de roupa depois de peça de roupa. Pena serem um tesos, se não fossem já não andava nisto.
Há dias reparei num que todas as noites aparecia à minha hora, se sentava bem à minha frente, e ficava a beber um whiskey e olhar-me com ar tímido. Dias a fio disto chamaram-me a atenção para ele. Doidos destes já os conheço bem. Acabou por me pedir uma dança, e balbuciou que se chamava José e me admirava muito, queria casar comigo, amava-me e achava-me a mulher mais bonita do mundo. Não lhe dei resposta, e despachei o serviço que me ia pagar a revisão do carro na garagem.
Hoje chamaram-me para um serviço no Barreiro, e quando chego entra-me no carro o José, de mão dada com uma mulherzinha baixa. Queriam ir para o aeroporto. Vi-o ficar vermelho que nem um chouriço quando me viu, e quase me ria para dentro.
Deixei-os na Portela e parei na estação de serviço para beber um café e fumar um cigarro.
“Malandros. São todos uns malandros.”, pensei ao cuspir a beata e voltar para o carro.
(este texto foi o exercício final do curso de escrita de viagens, um desafio de escrita livre, com base num conjunto de elementos fornecido por um colega: taxista de dia – Ernestina e stripper à noite – Priscila; o texto devia incluir ainda uma garagem, uma bomba de gasolina, um copo de whiskey, e ser passado em Fernão Ferro). O colega em causa chama-se José… (nota: pseudónimo)].