quinta-feira, 24 de setembro de 2009



a pessoa errada na altura errada no local errado

Sempre pensei que este tipo de coisas só acontecia nos filmes.

Estávamos casados há alguns anos, e a passar férias juntos, no estrangeiro, como era frequente. Sempre fomos aquele tipo de casal que faz muitas coisas em conjunto, com muita actividade, como que para nos manter ocupados e impresentes um da vida um do outro. Quando sozinhos, pouco tínhamos para nos dizer, apesar de o silêncio também ter conforto e até felicidade. Amava-te, de uma forma incomum. Nunca te odiei, nunca me foste incómoda, e gostava de passar o tempo contigo.

Naquele dia, estávamos sozinhos num miradouro sobre um penhasco. Bem junto à beira, a sentir a vertigem da altitude e do vento que nos cortava o rosto. Lá muito em baixo, depois de uma queda quase a pique, um mar de árvores. Lembrava aquelas imagens que se têem quando se voa sobre uma almofada de núvens fofas.

Numa altura em que te debruçaste um pouco para a frente, para espreitar melhor a altitude, veio-me um impulso louco à cabeça, e sem me conseguir segurar ou conter, dei-te um pequeno empurrão. Só o suficiente para começares a cair, e ainda vi o ar de surpresa a mudar para pânico nos teus olhos, um olhar que nunca vou conseguir esquecer para o resto da minha vida.

 

Porquê? Porque não sou eu que escrevo as palavras, são elas que me ditam a mim.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue