sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



Last Night

caTSFicámos à frente da televisão, já não sei se a ver um filme, se a jogar um jogo. Mas adormeceste no sofá ao meu lado, e tive de com carinho te roubar da ronha e levar para o quarto comigo, enquanto protestavas com birra de sono. Fingiste que querias dormir, mas agarrei-te e beijámo-nos e… fizemos amor um com o outro. Com carinho, com paixão, com entrega, uma fusão de corpos e de espíritos, um prazer profundo e único, uma comunhão que me preencheu total e absolutamente e me deixou... feliz.

Adormecemos juntos, agarrados, a respirar no teu pescoço, junto ao teu calor, corpo com corpo, quase só uma pessoa, poucas coisas poderiam ser tão especiais como estes momentos. Se a vida fosse sempre assim todo o planeta seria um sítio muito mais feliz.

E esta foi a nossa última noite juntos.



terça-feira, 14 de dezembro de 2010



fugas

O texto seguinte não está datado. foi encontrado, por assinar, no final de um bloco de folhas quadriculadas. a transcrição é integral e conforme o original.

«Estou cheio de sono e hoje  o dia foi pouco produtivo. Hoje tenho de me deitar cedo, não ficar a jogar até tarde com pensamentos idiotas na cabeça. Felizmente ela não me contactou mais. Cairei na real talvez. Ainda bem? A quem minto eu?

Não estou para isto. É amizade, é amizade. Fónix. Não gosto de coisas não claras, não gosto – detesto – sentir-me assim cheio de altos e baixos. É um suplício, está a fazer-me mal e não quero isto. O meu cérebro conspira contra mim e isto é uma tensão que não me agrada. Não vou insistir, e sair graciosamente. Isto não, isto não, isto não.

Não me podes desiludir. Já me desiludiste. Não esperar nada. Isto é a chave. Não esperar nada. Nada. Não esperar. Nada. Não esperar nada. Esperar a conversa “depois de jantar”
não esperar nada
        não esperar nada
                   não esperar nada
                            quase que dá vontade de que argentina passe depressa, para poder ter toda a liberdade de fazer o que me dá na real gana. E agora não posso fazer isso. Não posso estar sempre disponível e não ter nada de parecido. Acabou a disponibilidade universal, acabou o Verão. Neste fim-de-semana. Na 6ªf.»

O texto infelizmente não está datado, mas assume-se que seja de uma data anterior à viagem à Argentina, em que perante alguns motivos de insatisfação, o autor anónimo chega a exprimir vontade de que essa passe depressa, para que perante o descontentamento que sente, possa agir.

Não temos mais informações.



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



In Pain

(excerto do filme “Simple Men” de Hal Hartley)

«Just be quiet and go to sleep.
  
- I can't sleep.
- Why not?
  
I'm in pain.
  
- What?
- I got a broken heart, man.
  
- Bullshit.
- I do.
  
What happened?
  
I was set up.
Double-crossed.
Betrayed by the woman i love.
  
- Who, mom?
- No!
  
- Vera.
- Who's vera?
  
I don't want to talk about it.
  
- Suit yourself.
- You wanna see a picture of her?
  
- Wow, she's pretty.
- I would've done anything for her.
  
- Sorry.
- I just can't understand it.
  
- You'll get over it.
- No, dennis, i will not get over it.
  
- Yes, you will.
- Dennis, i love this woman.
  
- You've loved other women.
- Not like vera.
  
- Vera was special.
- Believe me, you'll get over it.
  
Yeah, you're right.
  
Tomorrow...
i'll get over it tomorrow.
  
- Now go to sleep.
- But i'm not gonna fall in love anymore.
  
- Fine.
- Women don't want you to love them.
  
Tomorrow...
the first good looking woman i see...
i'm not gonna fall in love with her.
That will show her.
Yeah. The first good looking
blond woman i see...
i'm going to make her
fall in love with me.
I'll do everything right.
Be a little aloof at first.
Mysterious...
seem sort of thoughtful, deep.
But possibly a bit dangerous, too.
Flatter her in little ways
but be modest myself.
They all fall for that shit.
Make her fall hopelessly
in love with me.
Yep. Mysterious,
thoughtful, deep, but modest.
Then i'm going to fuck her.
But i'm not going
to care about her.
To me she's going to be
another piece of ass.
Somebody else's little girl
who i'm going to treat like dirt
and make her beg for it, too.
I'm just going to use her up.
Have my way with her.
Like a little toy,
a little plaything.
And when i'm done...
i'm just going to throw her away.  
  
Are you through?

I haven't even begun yet.
  
Go to sleep.
  
I can't sleep. I'm in pain.»

Tirado daqui. Este diálogo, na forma como o irmão mais velho diz “I’m in pain”, sempre me tocou profundamente. Para quem não viu o filme, ele acaba por conhecer uma mulher, que o acha misterioso e etc.

E apaixona-se por ela.



domingo, 12 de dezembro de 2010



Comunicado Oficial da Presidência da Pessoa João

Concidadãos,

depois de aturada conversação e avaliação das circunstâncias que tão recentemente afligiram o nosso rectangular ser, gostaríamos de aproveitar a oportunidade para clarificar junto de todos um facto de que apenas há pouco tomámos conhecimento racional.

O motivo para o atraso na revelação deve-se à complexidade do processo auto-reflexivo em si, que c0m frequência levou este comité para observações circulares e argumentos e memórias secundárias, que tornaram impossível uma objectividade que apenas circunstâncias que poderemos classificar de extraordinárias permitiram revelar.

O facto em causa refere-se como não podia deixar de ser ao recente encerramento da relação com a Pessoa Que Não Vamos Nomear, nas circunstâncias que são por todos e pelos demais desconhecidas. Ao contrário do que até agora veio sendo vinculado na comunicação social, wikileaks, e inclusive comunicados anteriores à imprensa, sobre a reduzida dimensão do que a Pessoa João pretendia da Pessoa Que Não Vamos Nomear, o que a Pessoa João pretendia da Pessoa Que Não Vamos Nomear não era efectivamente pouco ou limitado.

Não sendo obviamente algo que fosse pretendido para agora, para o já, e serem de esperar anos e meses de maturação da ideia e de avaliação mútua das duas Pessoas envolvidas (e respectivos cidadãos), que como é de todos conhecidos têm diferenças que seria necessário avaliar e compatibilizar, o objectivo claro da Pessoa João era efectivamente forjar laços com a Pessoa Que Não Vamos Nomear de uma natureza permanente e duradoura, que teriam de ser construídos meticulosamente com base em afectos e agradabilidades mútuas mas construtivas e progressivas, e que porventura passado algum tempo resultariam em uma ou duas Pessoas Júniores e, se fosse vontade de ambos, numa união de natureza civil-matrimonial.

Desta forma desfeita falta de informação, e cientes de que o presente esclarecimento em nada altera os eventos já colocados em movimento, cumpre-nos lamentar a demora no processo reflexivo que permitiu a esta Pessoa chegar a esta conclusão, e a consequente demora na informação aos cidadãos, e esperar que em eventuais processos futuros esta clarificação e compreensão seja atingida de forma atempada.

Lamentando o sucedido,

P’la Presidência da Pessoa João,

-joão



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010



Maldito Orgulho

Acordou devagar como sempre, entorpecido de uma noite longa, com a sensação de que alguma coisa estava errado. Já se estava a levantar quando se lembrou de que ela já não estava na sua vida.

Romperam violentamente na noite anterior, rasgaram tudo o que os tinha juntado, sem olhar para trás ou tentar perceber porquê, não houve sanidade nem violência, mas uma calma fria e cortante e incompreensível e distante, como se nem fossem eles que estivessem ali, como se não quisessem ou pudessem dar-se ao luxo de admitir que se calhar até gostavam um do outro e que as coisas podiam até resultar, porque isso era fraqueza.

Romperam violentamente, e sabia que não se iam voltar a ver. Podiam pensar um no outro, podiam querer voltar a estar juntos, de certeza que se iam perguntar o que raios lhes tinha acontecido, mas não iam mexer-se para inverter fosse o que fosse, e as linhas iam divergir inevitavelmente. Ambos conheciam as regras do jogo, jogavam-no há demasiado tempo, e sabiam dos flancos que só se expõem uma, no máximo duas vezes na vida. Não o iam fazer outra vez.

Mas quando se joga à defesa não se marca, e o maldito orgulho não os deixou sair de onde estavam, cada um por si, a retomar a sua vida normal. 85% mais pobres, que estupidez tão trágica.

Não foi capaz de sair da cama, nesse dia.



(ps: não foi orgulho. foi não quererem a mesma coisa. mas ele escreveu isto antes de tudo acontecer)



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