segunda-feira, 14 de setembro de 2009



nunca ninguém pergunta pelo três de paus

Vivo num castelo de cartas tão sólido que resiste à força do vento. São cartas manuscritas, cartas enviadas e não enviadas, cartas recebidas e cartas que quis ter recebido.

O meu castelo é rodeado por um fosso cheio de água, cheio de crocodilos e suas lágrimas, e tem duas portas, ambas cartas de jogar. Uma, a da direita, é um preto três de paus, uma porta de que prefiro não falar. A segunda, a da esquerda, é um encarnado Ás de copas, e só se vai abrir no mais especial dos dias, e para a mais especial das pessoas. Por mais mais forte que empurrasses, por mais rápido que corresses, nem que passasses a velocidade do som a conseguirias derrubar,

se não fores tu a pessoa certa.

Às vezes fico a olhar para a carta encarnada com o Ás de copas, com mágoa suspirante de não a ver abrir-se devagarinho, com o mistério de não saber quem a poderá atravessar.

Vivo num castelo de cartas, na minha caixa de cartas, escritas ou recebidas ou jogadas por mim ou contra mim, e quero ser eu capaz de abrir a porta, sair lá para fora, e deixar tudo isto para trás de uma vez por todas.

 

A partir de um desafio de uma amiga especial para escrever um texto a partir das palavras seguintes: encarnado, água, caixa, lágrima, olhar, vento, velocidade, castelo, força, mágoa. (isto foi a segunda versão)



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