Direito de Resposta
Já comecei esta carta várias vezes. Tenho os restos das outras amarfanhadas no chão. Só escorrem de mim palavras que não as que te quero dizer, e não gosto das formas que têm. E não penses no que se segue como uma montra. Não o uses como um pedestal daquilo que podes fazer os homens sentir. Porque como te disse tantas vezes, eu não sou um Homem qualquer. E não sou um troféu.
Olá,
Já passaram 15 segundos desde que nos despedimos, conscientes de que o que tínhamos contra nós era mais do que o que nos juntava. Zangados. Triste. Sei que desta vez não vou atrás de ti, e que vais aproveitar isso para fugir de vez, a coberto do que chamas de incompatibilidade e eu chamo de outra coisa. Sinto que não me vou voltar a despedir de ti, nem te vou voltar a ver.
Estes 15 dias custaram a passar. Senti angústia e mágoa, senti altos e baixos, vontade de estar sozinho com o vento num penhasco junto ao mar, junto com amigos a beber copos despreocupados, a pôr música muito alto para não me deixar ouvir os meus próprios pensamentos, a gritar sozinho no carro para te expulsar de mim, a recorrer ao ódio e à raiva como muletas. A pensar que já passaste até um aperto me mostrar que ainda não.
Não te vou procurar, e queria que tu o fizesses, e aperta-se-me o estômago de saber que não te vou ver mais e que nada disso vai acontecer.
Passados 15 meses, recordo a insensatez que foi o nosso encontro. A tua irracionalidade, a ausência de travão nas palavras, a imaturidade, a juventude. Penso que foi tudo um erro. Uma relação diferente de todas as outras por que passei, diferente da que tenho hoje com Respeito e Confiança, mas que se destacou pelos motivos errados. Recordo ainda a paixão que senti, os sonhos que construí, com uma vaga mágoa, e pergunto-me como estarás hoje.
Há 15 anos atrás, quando nos separámos, sabia que não teria nunca funcionado. Hoje, quando penso no passado, sinto Saudades tuas, sinto a falta da nossa intensidade, sinto a falta do teu sorriso que já só recordo vagamente, e dos teus longos cabelos. Nunca mais soube de ti, e imagino-te a errar entre grupos de amigos, incapaz de te prenderes. Levo a caixa que tem o teu nome para fora de casa, e dou-te um último Adeus. Foi melhor assim.
Esta é a minha carta de despedida às despedidas, espero.
João
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