sexta-feira, 31 de julho de 2009



Message in a Blister

jillbioskop_mulherarmadilha 

Jill Bioskop, em A Mulher Armadilha de Enki Bilal.

Quanto ao que está a fazer, só o sabe Gogol D’Algol, o Gato de Riscas Verdes.





Sumos Criativos

A energia que gasto aqui não sei como a vou recuperar.

Tu que estás aí, o que me dizes? Ando aqui há 3 semanas em delírio sofrido, a postar diariamente porque as palavras se ficam dentro de mim causam uma explosão de chicha, e não sei o que é estar desse lado. Ou antes, o que seria, porque sei que me dirijo a uma pessoa imaginária: tu. :-)

Olá, figmento da minha imaginação. Já pensaste que podes ser quem eu quiser?

Tinha mais piada se fosses um pigmento da minha imaginação. Assim serias uma cor que só eu conhecia. Claro que mais ninguém a poder ver seria uma frustração, e seria internado passado pouco tempo se não aprendesse a calar o que vejo (se bem que julgar que tu existes também já é motivo quantum bastis para um colete de forças e doses industriais de químicos).

Se calhar até estou a delirar.

Vamos supor, academicamente, que estou a delirar, daqui em diante, e ver onde isso nos leva.



quinta-feira, 30 de julho de 2009



Com carinho, tristeza, e muita saudade

«Em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O(a) ciumento(a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro(a), contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.

Entre absurdos e ridículos, há o caso de uma paciente portadora de Ciúme Patológico que marcava o pênis do marido assinando-o no início do dia com uma caneta e verificava a marca desse sinal no final do dia (Wright, 1994). Mais absurda ainda é a história de outro paciente, com ciúme obsessivo, que chegava a examinar as fezes da namorada, procurando possíveis restos de bilhetes engolidos (Torres, 1999).

Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmada pelo(a) companheiro(a), essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz. Depois da capitulação, a confissão do companheiro(a) nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior.

Os portadores de Ciúme Patológico comumente realizam visitas ou telefonemas de surpresa em casa ou no trabalho para confirmar suas suspeitas. Os companheiros(as) desses pacientes vivem dissimulando elogios e presentes recebidos ou omitindo fatos e informações na tentativa de minimizar os graves problemas de ciúme, mas geralmente agravam ainda mais.

O que aparece no Ciúme Patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro(a). Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes

[…]

«O portador de Ciúme Patológico é um vulcão emocional sempre prestes à erupção e apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, para ele um sentimento depreciativo e doentio. Esse paciente com Ciúme Patológico seria extremamente sensível, vulnerável e muito desconfiado, portador de auto-estima muito rebaixada, tendo como defesa um comportamento impulsivo, egoísta e agressivo

Tirado daqui. Vale a pena ler.





Que me deixaste cá dentro

Cá deeeeeeeeeeentroooooo... Quem canta, seus males espanta, não é o que dizem? Pois se me vires por aí a abanar com qualquer coisa dentro, já sabes porque é, é a música que não consegue sair (afinal, não ia andar por aí a cantar na rua, ainda por cima com a minha bela voz :-)). É o mesmo exacto princípio do espanta-espíritos. Xooooo, espíritos! Tlim tlim tlim, junto à janela, não vão eles entrar... Eu cá, vou instalar um no fb.

E se nos dedicasse uma banda sonora, era o "Mala Vida".



quarta-feira, 29 de julho de 2009



Fita para o Cabelo

Ficaram coisas esquecidas, como ficam sempre nas relações. Umas meias roxas, uma fita para o cabelo. Encontrei-me contigo para tas devolver, para poder encerrar a porta do que foi o nosso breve mas intenso cruzamento na vida.

Voltei a ver-te sem saber como te ver. Já não te tinha, já não eras a minha princesa, e a mulher por quem fiz tudo e a quem me entreguei --- assim. Não tínhamos muito para nos dizer. Controlámo-nos para parecer frios e distantes, para fazer parecer que estávamos bem e felizes, que já nos deixámos um ao outro para trás. Sorrisos ao responder a mensagens de texto, a deixar perceber que a vida nos corre bem, e que o outro já não está nela - porque, afinal, não precisamos dele.

Trocamos o que temos de trocar, e os olhos prendem-se por mais tempo do que deviam. Sente-se o fogo a queimar por dentro, um peso no peito e a transpiração nas mãos, e a certeza racional que temos já não sabemos em que prato da balança pesa mais [1].

E depois, o que aconteceu, perguntam-me? Depois… o que querias tu que acontecesse? Eu também não sei. Isto é tudo ficção, afinal de contas. Certo?

 

 

[1] Já não há balanças com dois pratos. Talvez isso seja uma parábola, só por si.





FMM Sines 2009

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Voltei a Sines este ano, para mais uma série de concertosdde world music. Possivelmente o melhor festival do país para este “tipo” de música. De entre tudo o que ou/vi, os meus favoritos foram os tugas Oquestrata, que têm algumas canções geniais, a Rupa & The April Fishes, os Ukranians, o Victor Démé, o Debashish (ort?) e os Warsaw Village Band, que já tinha tido visto antes.

E ainda tive a sorte de aparecer em algumas fotografias (eu sou o da esquerda) :-).



terça-feira, 28 de julho de 2009



tHE dARKNESS

Um dos primeiros jogos que joguei na consola chama-se The Darkness. É um “shooter” mais ou menos convencional, mas que aos elementos brutais e de terror junta um romantismo inesperado, e que tem a cena mais emotiva que jamais vi num jogo.

Deixo-a aqui. É sobre perda, e sobre não se poder fazer nada contra isso.





Posta Administrativa

Este blog acabou de recuperar muitas das imagens que faziam parte de posts antigos, e que se haviam perdido quando a Baía das Gatas no Terravista foi levada por um temporal.

Viva, Viva!



segunda-feira, 27 de julho de 2009



amigos de mails de bonecos

a obsessão é lixada, não é? rima com paixão, ainda por cima. não que isso seja incomum. aposto que em português existem pelo menos mais 10 palavras que têm a mesma terminação, incluíndo esta que acabei de escrever. eu sei que é lixada, porque sei o que é viver uma obsessão. e tu, imagino que tu também saibas. é o que sentes e sinto agora. mas aos poucos, à medida que os dias passam, à medida que o que sentes dentro de ti se acalma devagarinho, que procuras fora de ti as ocupações que te limpam a mente, e vai doendo um pouco menos (só quando estás sozinh@), começas a ganhar batalhas contra essa obsessão. ainda te vais perguntando se não podias ter feito alguma coisa mais, recapitulando aqui e ali cenas boas ou cenas más, e congelando uma memória do que já não tens e já não vives. sei como isso é. os filmes que por vezes se fazem. “e se el@ me viesse bater à porta?” mandava-@ embora? mas a verdade é que a rotura aconteceu por um motivo, e sem isso mudar, antes penar (se é que) nos dias que passam. até ao dia que acordas mais leve e te sorri o coração, e de repente já não te dói, e o que resta são muitas fotografias arrumadas e outra oportunidade desperdiçada.

não sei se já passaste por isso. eu sim.





nunca é tarde demais

Finalmente, inscrevi-me. :-)

 

(ou: “nunca, é tarde demais” ?)



domingo, 26 de julho de 2009



Curriculum Vitae, de Rubem Fonseca (um conto)

A minha escolha para ler no curso de Contadores de Histórias. Sobre como elas não percebem.



sábado, 25 de julho de 2009



Solos de Guitarra 'slide' [Um Post Orgânico]

[Vou usar este post como base, e crescê-lo por dentro. Em tempos planeei fazer isto com um amigo, mas nunca avançámos para a ideia. Faço-o sozinho eu. Vale tudo, desde que seja a acrescentar palavras e frases, em qualquer lado do texto. Um pedaço todos os dias. É um post orgânico e reciclável.]

Quando me encontro com ele pela primeira vez, parece um monstro sonoro que entra em nós p'los ouvidos e pela boca e se deixa ficar cá dentro, como um vírus sem início e sem fim que não se sabe onde começa ou como terminar/cortar/queimar de uma vez por todas. Quando acaba o concerto, e a música já parou lá fora, e o recinto está meio vazio, o som fica dentro dos ouvidos a zunir. No chão restam latas de bebida, copos de cerveja de plástico, inúmeros pedaços de papel, beatas. Os despojos do circo moderno. Muitas histórias para contar, não duvido disso. Mas o que me preocupa é a minha própria história, e o som que está a zunir dentro de mim.

 

Estou dentro do Castelo à espera dos concertos e está o Victor Démé a tocar no som recinto, aquele blues interior que me faz sentir como se tivesse uma faca espetada no coração (o meu), uma música familiar que me faz arrepiar e que em tempos troquei contigo, no dia em que gostaste da minha música. Há sincronicidades q jogam contra nós, e esta só me vem magoar e fazer mal. Não preciso disto, já não quero estar aqui.

 

Vi-te a semana passada, sentada na relva com o teu rapaz. Um vestido verde, sandálias. Não és alta, tens um nariz altivo, uma expressão que primeiro pensei arrogante mas se tornou simpática. Percebi-te social pelos amigos que iam ter com vocês e te cumprimentavam animados, e o que me fez olhar-te foi o longo cabelo castanho e revolto numa trança selvagem, que por vezes levantavas, e bem que podias ser tu a miúda 100% perfeita para mim, mas como nessa outra estória, não te vou conhecer, e o destino não vai fazer não fez por nos juntar. Melhor sorte na próxima oportunidade. Procurei-te em fotos como ao Wally, e pouco mais encontrei que sombras. Para quê pensar nisso? Todos os dias nos cruzamos com estranhos que nunca mais vamos voltar a ver. Todos os dias. E em alguns dias, cruzamo-nos com pessoas que conhecemos e vamos deixar de conhecer, e se o soubermos, esses custam mais a passar.

 

Há muitos anos atrás, cruzei-me com uma pessoa que acreditei ter encontrado pelo Destino. Sou ateu, não acredito em nada que esteja para lá do sensorial, sou céptico. Mas todas as minhas células gritavam que Era O Destino. (Eu e esse Destino temos de ter uma conversa um destes dias). E de facto foi o Destino, mas não foi bom. Há coisas que são o Destino, que são destinadas a acontecer, e que estão destinadas a acabar mal (ou até, muito mal).
Seja como for, não acredito nisso do cem por cento perfeito, ou antes, não acredito que só haja UMA possibilidade, UMA pessoa 100% perfeita para cada um de nós. Acho (acredito) que existem inúmeras possibilidades de cem por cento, em cada momento.
E eu – neste momento - não estou a procurar cem, nem setenta e cinco sequer. Já me chega de paixões.

 

Tem um aspecto simpático e divertido, um feitio brincalhão, e quem a conheceu em tangente disse-me que parecia doce, até saberem qual o sabor. Um pouco como as amêndoas que nunca se sabe se vão ou não ser amargas. Isto fez-me pensar em café, que muitos  - como tu – enchem de açúcar até parecer um bolo, e que prefiro tomar com o sabor amargo que na realidade tem. Se calhar foi por isto que lutei tanto por ti, por estar habituado a amargos de boca, e dores no coração. Uma forma de masoquismo apaixonado. Daqui a muitos anos, quando já estiver nada em jogo, havemos de ter uma conversa, quando as rugas formarem pés de corvo nos olhos e já não tivermos o mesmo brilho no olhar, e aí vou-te explicar o que nunca foste capaz de compreender. Sempre me pareceste doce, mesmo quando já sabia que não eras, mesmo quando já te tinha provado.

 

O pior já passou, desta vez. Podes respirar de novo, moço.



sexta-feira, 24 de julho de 2009



Sempre o 'Quaresma'

"Mas o amor é para ser levado ao extremo, não é? Se não, não vale a pena: é uma companhia para ir ao cinema. Para isso prefiro ir sozinha. Eu adoro amar." (escrito num print antigo que reencontrei no carro, ao lado do banco do pendura, junto com cabelos teus).





Direito de Resposta

Já comecei esta carta várias vezes. Tenho os restos das outras amarfanhadas no chão. Só escorrem de mim palavras que não as que te quero dizer, e não gosto das formas que têm. E não penses no que se segue como uma montra. Não o uses como um pedestal daquilo que podes fazer os homens sentir. Porque como te disse tantas vezes, eu não sou um Homem qualquer. E não sou um troféu.

 

Olá,

Já passaram 15 segundos desde que nos despedimos, conscientes de que o que tínhamos contra nós era mais do que o que nos juntava. Zangados. Triste. Sei que desta vez não vou atrás de ti, e que vais aproveitar isso para fugir de vez, a coberto do que chamas de incompatibilidade e eu chamo de outra coisa. Sinto que não me vou voltar a despedir de ti, nem te vou voltar a ver.

Estes 15 dias custaram a passar. Senti angústia e mágoa, senti altos e baixos, vontade de estar sozinho com o vento num penhasco junto ao mar, junto com amigos a beber copos despreocupados, a pôr música muito alto para não me deixar ouvir os meus próprios pensamentos, a gritar sozinho no carro para te expulsar de mim, a recorrer ao ódio e à raiva como muletas. A pensar que já passaste até um aperto me mostrar que ainda não.
Não te vou procurar, e queria que tu o fizesses, e aperta-se-me o estômago de saber que não te vou ver mais e que nada disso vai acontecer.

Passados 15 meses, recordo a insensatez que foi o nosso encontro. A tua irracionalidade, a ausência de travão nas palavras, a imaturidade, a juventude. Penso que foi tudo um erro. Uma relação diferente de todas as outras por que passei, diferente da que tenho hoje com Respeito e Confiança, mas que se destacou pelos motivos errados. Recordo ainda a paixão que senti, os sonhos que construí, com uma vaga mágoa, e pergunto-me como estarás hoje.

Há 15 anos atrás, quando nos separámos, sabia que não teria nunca funcionado. Hoje, quando penso no passado, sinto Saudades tuas, sinto a falta da nossa intensidade, sinto a falta do teu sorriso que já só recordo vagamente, e dos teus longos cabelos. Nunca mais soube de ti, e imagino-te a errar entre grupos de amigos, incapaz de te prenderes. Levo a caixa que tem o teu nome para fora de casa, e dou-te um último Adeus. Foi melhor assim.

Esta é a minha carta de despedida às despedidas, espero.

João





a miúda 100% perfeita para mim

Gravei isto para ti. Pisca aí por baixo, se gostaste. Ou não pisques, se achares que eu não sei que aí estás. Pode não estar bem lido e não parecer uma história. Mas gravei-o só para ti, só para os teus olhos e ouvidos. E gostava de te estar a contar a história aqui, neste momento, agora, comigo, para ser uma coisa só nossa.

Aconteça o que acontecer, não te esqueças. Isto é só para ti.





Tenho uma carta tua no bolso

Recebi-a há muitos anos, depois termos cruzado as nossas vidas e deixado marcas indeléveis um no outro. Nunca fui capaz de a abrir e ler. Sinto medo do que possa conter, das palavras que possam estar lá soletradas. Não sei se é longa, curta, se soletra despedida, indiferença, ódio, amor ou saudade. E duvido que algum dia venha a saber.

Não a quero abrir, e não a consigo abrir. Prefiro viver sem saber, e com o conhecimento de que consigo viver com o desconhecimento.

No mito da caixa de Pandora, todos os males do mundo fogem da caixa, e só um resta, a Esperança:

Only Hope was left within her unbreakable house,
she remained under the lip of the jar, and did not
fly away. (fonte)

Prefiro viver com a incerteza da Esperança dentro da caixa, do que conhecer a realidade e perder os sonhos que tenho. Vai ficar comigo até ao fim dos meus dias.
Assim ao menos posso sonhar.

Também te escrevi uma carta. E nunca saberei se a leste. Leste?



quinta-feira, 23 de julho de 2009



I, Disposable

The primary use of this interface is to release unmanaged resources. The garbage collector automatically releases the memory allocated to a managed object when that object is no longer used. However, it is not possible to predict when garbage collection will occur. Furthermore, the garbage collector has no knowledge of unmanaged resources such as window handles, or open files and streams.

Use the Dispose method of this interface to explicitly release unmanaged resources in conjunction with the garbage collector. The consumer of an object can call this method when the object is no longer needed.

(parece estranho, mas este post pertence mesmo aqui)





esta noite é só minha

Esta noite é só minha





as putas das palavras são lâminas

E POR VEZES QUEREMOS QUE CORTEM.

 

Há uma expressão em inglês que reza assim:

«Sticks and stones may break my bones (but words will never hurt me).»

Pois digo-te: por muita boa vontade que tenhamos, as palavras podem ser muito mais violentas que os paus e que as pedras. O corpo cura as nódoas negras que lhes infligimos. Mas não há pomada para palavras.





Podia continuar a noite toda

tenho demasiadas palavras cá dentro. e não quero dizer todas. ou não sei como as dizer. ou não quero que saibas quais são as que estão a mais, ou quais são as que estão a menos.

podia continuar a noite toda.

são tantas as palavras, tantos os significados, as subidas e as descidas, as esquerdas e as direitas, as paisagens e as fotografias e os filmes e tantas tantas tantas as palavras.

que podia continuar a noite toda.

ninguém as iria ler. há muitas palavras não têm lugar e que não devem ser ditas ou pensadas. mas elas estão aqui todas dentro, e não sei bem o que lhes fazer. se fosse escritor, tinha um romance na ponta dos dedos, era começar agora e acabar com o nascer do sol. mas não sou escritor. sou só leitor.

mas podia continuar a noite toda.

apetecem-me palavras graves e esdrúxulas, adjectivos assertivos e coloridos, substantivos vigorosos, pronomes acusativos e os meus tão queridos advérbios de modo, mormente. os verbos a orquestrar a acção, e a fome a juntá-los todos uns aos outros numa sopa de palavras.

porque eu podia continuar a noite toda.

e ia estar a escrever para ti. como nunca fizeram antes, e como nunca vão voltar a fazer, foda-se.





Mensagem das Estrelas (A Carta Mais Importante)

Imagina uma carta. Um envelope amarelo de papel reciclado. Por fora só com o teu nome e morada, um selo da minha própria cidade, o carimbo redondo com a data de dois dias antes.

Já não se escrevem cartas. O que poderia ser isto? Abri, e tinha duas páginas manuscritas, em papel muito fino (quase transparente). Começava com Olá, e o resto é só meu. Mas era a Carta Mais Importante.

Se fosses tu a receber esta carta, o que querias que dissesse? De quem querias que fosse?

 

Sei que já não temos o hábito de parar para pensar. E não quero saber a resposta. Quero só que pares. E que penses.





“Dancing”

Conheceram-se por acaso numa festa de amigos comuns, dançaram juntos e os olhos e os corpos cruzaram-se em sincronia e não se puderam mais largar… saíram a dançar a uma música que só os dois ouviam, os corpos juntaram-se numa dança horizontal, os corações batiam ao mesmo ritmo, as vidas passaram a cantar-se ao som da mesma orquestra, os dias sem o outro voavam com o pé a bater e os dedos a tamborilar e a cantar baixinho sem som, e com o tempo a tiqueticar perceberam que aquela música que os juntava também era a música que os prendia, e que não podiam sair dela.

Nem quando o quiseram.





Meia Pessoa

Há um livro do Saramago que diz nas primeiras páginas:

Cuidado. Tem uma pessoa dentro.

O nosso personagem apoderou-se desta frase para livro muito seu. De capa preta, páginas muito brancas, escrevinhava em letra muito pequena e irregular os mais secretos pensamentos, no escape do quotidiano, no grito surdo para uma página de papel, numa organização de ideias e amores e raivas e paixões e alegrias.

O livro crescia todos os dias, como o livro do Destino, engrossavam-se as histórias que continha, os segredos secretos nunca destinados a ser lidos, apenas escritos, como aquele segredo gritado para um buraco numa árvore para lá ficar. Continha todas as histórias da humanidade.

Diz-se que na maioria dos casos de violação o violador é conhecido da vítima.

Um dia, um violador roubou esse depósito de experiências e sentimentos. Apoderou-se da vida alheia, dessa pessoa que habitava dentro das páginas  muito brancas do livro de capa preta. O nosso personagem sentiu um rombo no corpo e na vida, como quem perde um membro num acidente, sentiu-se sem aquilo que de mais íntimo tinha na sua vida, da sua própria vida.

Sem a parte da pessoa dentro do livro, tornou-se uma pessoa diferente, a pessoa que restava.

E odiou, com todas as suas forças.



quarta-feira, 22 de julho de 2009



Reencontro

Se me perguntassem pelos grandes amigos da minha vida, falaria do JM quando era miúdo. Do C. a partir do secundário, do H. a partir da universidade, e mais recentemente do L. São pessoas que conheço há dezenas de anos, e que conheço quase de olhos fechados.
Há 3 anos atrás, por termos deixado meterem-se assuntos profissionais em assuntos pessoais, deixei de ver e falar com o C. Ainda tentei retomar contacto várias vezes, mas sem sucesso, e acabei por desistir. Às vezes pensava que era uma estupidez, que amizades assim não podiam acabar desta maneira, engolia o acontecido e pensava em como o reencontrar.
Ora isso acabou de acontecer, quase à porta do meu escritório. Levantei os olhos e reconheci o rosto e o sorriso que se formou se calhar contra vontade, porque os Amigos a sério são assim.
Não te vou voltar a deixar afastar, man. Por muito tótó que tenhas sido. :-)



terça-feira, 21 de julho de 2009



Small Doses of Happyness

Uma dose

Soube há poucos dias que uma amiga de há muitos anos, por quem sinto muito afecto, encontrou aquela que parece ser a pessoa que há muito procurava e que, espero, a possa fazer feliz. É para mim uma fantasminha, porque é uma pessoa com quem apesar de falar há 7 ou 8 anos, e de viver na mesma cidade em que habito, nunca conheci e não sei se virei a conhecer. Talvez um dia, quem sabe, num café ao pé do mar, quando viver feliz e tiver 3 crianças e duas cadelitas cor de mel?

Duas doses

Anos atrás, vivi com uma mulher chamada R., caladinha e bonita, com quem acabei por me casar e depois separar. O tempo da relação tinha terminado. Fomos almoçar há dias, está de barriga enorme, apenas a dias de ter um rapaz. Claramente feliz, desejo-lhe tudo de bom, penso que queria isto há algum tempo, e fico também eu feliz por ela.

Três doses

Um grande amigo de há quase 20 anos, dos tempos de universidade e muitos trabalhos de grupo que baptizamos com nomes como “roteamento de embrulhos em áreas duplas desiquilibradas” fez 38 anos ontem. Depois de soprar as velas, para os poucos amigos que se reuniram em casa dele, recapitulou os trintas, que nas palavras dele foram muito recompensantes.  Dizia, feliz, pouco antes de beijar a namorada importada do país vizinho, que está ainda mais expectante para os quarentas que se aproximam.

 

 

Era bonito que estes três filmes terminassem aqui, com um E Viveram Felizes Para Sempre. Todos o merecem.





O Contador de Histórias

Há alguns meses atrás, numa posta com letras escondidas, cantarescrevilorei uma faixa da Souad Massi chamada Raoui (The Storyteller). Deixo-te o vídeo no tubo (enquanto não o removerem), com a música lindíssima, e a letra traduzida.

Raoui (the Storyteller) (daqui)

Oh storyteller tell us a story
Make it a tale
Tell me about the people of old
Tell me about 1001 Nights
And about Lunja daughter of the Ghoul
And about the son of the Sultan

I'm about to tell a story
We'll be far from this world
I'm about to tell a story
Everyone of us has a story in his heart

Narrate and forget we're adults
In your mind we're young
Tell us about heaven and hell
About the bird that never flew in his life
Make us understand the meaning of the world

Oh storyteller tell it just as they told you
Don't add anything, don't leave anything out
We could see into your mind
Narrate to make us forget this time
Leave us at once upon a time

 

Tenho uma estória para te contar. Queres ouvir?





buédecenas

Recebi vários faxes a perguntar-me porque decidi usar um número no título da posta anterior. Não lhes respondi, apesar de o mistério não ter mistério nenhum. Se calhar, é uma conspiração minha contra a humanidade. Se calhar, eu fui à Lua e não quero que ninguém saiba (se calhar vou lá todas as noites). E mais: fui a pé. Isso. Fui a pé à Lua. E mais! Quando me perguntaram sobre a minha Viagem ao Fundo de Mar, e de como lá tinha chegado, boquiabri-me embasbacado: “Mas… fui pelas escadas!” As pessoas fazem cada pergunta!!! Queres ir lá comigo? Preferes a Lua ou o Fundo do Mar?

Para mim tanto faz. Preferia Marte, para ser sincero. É o meu planeta Natal. Vim de lá de avião e aterrei na terra ali na zona que chamam de Leiria. Depois caminhei a pé até aqui, provei uma maçã, e decidi que ia ficar aqui. Pensei ainda em chamar os meus amigos para vir destruir disto e fazer uma auto-estrada espacial (…), mas eles preferiam ficar a ver televisão.

 

Não é curioso, como hoje em dia podemos dizer qualquer espécie de barbaridades e tudo nos parece aceitável? Deixámos a barreira da suspension of desbelief cair a níveis absolutamente baixos. Tudo nos parece credível. Não estou a dizer que isto seja necessariamente mau. Afinal de contas, que mal tem a mulher de 102 anos da polinésia que teve 3 gémeos? A questão que se põe é: como é que se consegue criar surpresa, nesta civilização? será possível?

Como é que eu te conseguiria surpreender, dizes-me? Eu até sei. Mas quero que sejas tu a dizer-me.





88172

A terra da lua

Ao que parece, fazem h0je 40 anos que o Homem aterrou na Lua, tirando fotos espantosas como esta aqui ao lado.

Ao jantar, hoje, tive uma conversa com pessoas inteligentes que têm reais dúvidas sobre isto, duvidando que se lá tenha posto os pés. E não são os primeiros que conheço. Aquilo que lhes perguntei foi se, depois do documentário ou livro conspirativo que certamente viram ou leram em que apresentaram essas dúvidas, foram investigar as críticas a essas dúvidas. É que se tivessem ido, teriam descoberto que cada uma dessas dúvidas e teorias da conspiração de que tanto gostamos (ainda me lembro do filme JFK, que vi fascinado e depois descobri ser um ror de disparates do princípio ao fim) está documentada e tem uma resposta. Ca-da-uma-de-las. Este tipo de situação tira-me do sério. Não seria de esperar um pouco de cepticismo, por pouco que fosse, e não aceitar tudo pelo seu valor facial? Especialmente quando se trata de uma das maiores conquistas da ciência e engenharia do Homem? um monumento ao cérebro que carregamos nos ombros? Parece-me mesquinho e indigno da palavra Sapiens.

É assim. Ao menos disseram-me que “tenho uma cabeça (maneira de pensar) gira”. Espero que fosse um elogio :-).



domingo, 19 de julho de 2009



This too, shall pass

No podcast to Syd Lieberman ouvi uma estória que me apetece contar-te.

É uma estória que se passa nos temos do Rei Salomão. Ora o Rei tinha inúmeros conselheiros, mas um deles destacava-se por ser o preferido, por ser o melhor e mais inteligente. Isto subiu-lhe à cabeça, no entanto, e gabava-se perante os outros da sua importância.

Ora o Rei Salomão, que percebeu isto, decidiu ensinar-lhe uma lição de humildade. Chamou-o à sua presença, e pediu-lhe que encontrasse um anel mágico. Um anel que fosse capaz de dar alegria onde houvesse tristeza, e tristeza onde houvesse alegria. O conselheiro sai imediatamente em busca do anel, aceitando o repto do seu Rei.

Durante meses, procurou em todas as cidades do Reino, em todas as lojas, em todos os mercadores, e nada. Não havia sinal do anel da tristeza e alegria. Já desesperado, decide voltar ao Rei e admitir o fracasso, quando vê um um último mercador de jóias e lhe pergunta se sabe alguma coisa do anel. O mercador diz-lhe que nunca ouviu falar de tal anel, e que não o pode ajudar. O conselheiro, cabisbaixo, prepara-se para sair, quando uma voz idosa do escuro da loja, provavelmente o pai, chama o mercador e lhe sussurra algo. Este chama de volta o conselheiro “Espere, afinal temos o anel que procura!”. O conselheiro esperou enquanto o mercador escolhia um anel do melhor oiro e lhe gravava algumas palavras, para depois lho entregar. Leu o que dizia, sorriu e agradeceu “Era mesmo isto que procurava”.

Quase correu para o palácio do Rei Salomão. Quando este soube que o Conselheiro voltara, sorriu, a preparar a lição de humildade que tinha pensada. O conselheiro aproxima-se e diz: “Rei Salomão, encontrei o que me pedistes”, e dá-lhe o anel. O Rei aceita-o, lê o que diz, sorri com a sabedoria do Conselheiro e pensa para si “Afinal, fui eu a ter a lição.”

E o anel, o que dizia?

Também isto, vai passar”.



sábado, 18 de julho de 2009



tu

deves ter-te apercebido que nos últimos tempos este weblog se tinha tornado num veículo de expressão excessivamente íntimo e privado, roubando textos e palavras que pertencem a um meio que não este.

por esse motivo e por outro ainda, optei por mover todos os posts com essas características para essoutro meio, e espero não voltar a deixar-me cair no erro de usar o weblog como veículo tanto de desafabos íntimos e privados, como de mensageiro por via indirecta.

pedindo desculpa pela interrupção, vamos voltar à nossa programação regular.



quinta-feira, 16 de julho de 2009



Luminous Times (Hold On To Love)

Estava a ouvir parte da discografia mais antiga dos U2, daquilo que eu respirava até à desilusão que foi o concerto do Zooropa em Alvalade, quando me cruzei com uma faixa que sempre adorei, e que ainda hoje - agora mesmo, agora mesmo - é capaz de me causar arrepios.

Vem do CD Single do “With or Without You”, e poderia ter feito parte do clássico “Joshua’s Tree”.

Toma o vídeo, do Youtube. E deixo-te a lírica aqui.

E a frase que sempre ressoou comigo, desde há mais de 20 anos atrás (!), é:

I love you 'cause I need to /
Not because I need you

Foi sempre aqui que senti os arrepios e a pele de galinha assustada.

 

Tal como aqui e agora, de surpresa.



domingo, 12 de julho de 2009



Contadores de Histórias

Ontem e hoje participei numa workshop de Contadores de Histórias.

Éramos poucos: a Sofia a servir de guia de viagem, com o Zé Luis, o Rui, a Inês e eu a aprender. Fizemos inúmeros exercícios a brincar, para nos desinibirmos, para praticar a voz, e o ritmo, e a estrutura, a audição, e a imaginação…

e quão limitada está a nossa imaginação e espontaneidade pelos anos que passam, não imaginam…

Um dos jogos giros foi aquele em que um de nós tentava contar uma história inventada, com um anjo bom à nossa esquerda que nos segredava ao ouvido uma palavra que tínhamos de usar na história, e um demónio mau à direita que nos segredava palavras a evitar. Noutro, um conferencista estrangeiro vinha fazer uma apresentação, e tinha um intérprete ao lado para traduzir o que ia dizendo. O conferencista dizia uma frase numa língua inventada, grrrya yadadao liloliloli!, gesticulando, e o intérprete tinha de inventar uma tradução, “olá venho-vos falar de sabonetes”, e assim por diante. Os gestos e entoação do conferencista a influenciarem o intérprete, e a tradução deste a influenciar os passos seguintes do conferencista. Outro jogo ainda, a pares, foi contar uma viagem a um sítio inventado, onde tudo pode acontecer. Chamava-se o Jogo do Sim, porque tínhamos de concordar com tudo o que o nosso parceir@ dissesse, e alterar a história em conformidade. Muito divertido…

Já hoje, 2º e último dia, tivemos de levar duas histórias preparadas. Uma para ler aos colegas, outra para contar de memória. A minha escolha de leitura foi o conto “Curriculum Vitae”, do livro de contos do Ruben Fonseca “Os Prisioneiros”. É um conto literário curto, sobre um homem que toca bongo. Não te vou dizer como é a história, terás de a ler se quiseres. Emocionei-me em crescendo ao lê-la, e nas últimas 4 linhas, não consegui evitar algumas lágrimas. Na repetição, com lições aprendidas, num canto da sala rodeado pelos outros bem próximo, foi ainda mais difícil contá-la… Da segunda história já te falei, e até a podes ler agora se quiseres. Traduzi-a, claro. Tentei contá-la de forma a criar ambiguidade sobre mim enquanto contador (no início) ou afinal como participante (no fim). Duvido tê-lo conseguido: apesar de os ter tirado da sala e levado para o intimista ambiente do bar, e de tentar encarnar outra pessoa, e de não lhes ter contado nada sobre o que iam ouvir. Voltei a emocionar-me, várias vezes, e quase não consegui terminar.

«É uma história triste, não achas?»

É possível que depois do Verão façam o curso (não a workshop) de Contadores de Histórias. Se o fizerem, podem contar comigo.



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